“Fred é um cara que atribui um valor libertário aos desejos, o faz de maneira genuína e por isso estabelecendo um valor absoluto ao presente, ao agora” comenta Túlio Starling em entrevista sobre o longa A Porta Ao Lado que está em exibição nos cinemas.

Com uma temática que aborda os limites de um relacionamento, fidelidade, traição, amor e paixão, o filme traz a história do encontro dos casais Rafa (Dan Ferreira) e Mari (Letícia Colin), que vive um casamento monogâmico e estável, e Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara Paz), que mantém uma relação aberta. A proximidade com os novos vizinhos desperta em Mari uma série de desejos e dúvidas, e o encontro dos quatro faz com que todos repensem suas escolhas.
Eu conversei com a ator Túlio Straling que faz Isis, casado com Isis (Bárbara Paz), onde eles mantém um relacionamento aberto. Confira abaixo como fio a entrevista.
Bruno Cunha: O seu personagem é composto pela liberdade, de diversas formas. Como é montar essa personalidade para atuar?
Túlio Starling: A liberdade é sim um valor importante pra esse personagem, o Fred. É um valor que projeta a sua visão de mundo, que orienta a atuação dele no mundo. Mas a subjetividade de uma pessoa não é constituída somente pelos valores nominais que cada um estabelece como norte na vida. A subjetividade é também feita das coisas que não conseguimos elaborar, das coisas que são mais difíceis de delinear, dos medos, dos vazios… Então, pra construir o Fred eu fui procurar nos espaços das cenas como poderiam se movimentar tanto essa busca e visão libertária quanto os apegos e medos da imprevisibilidade da vida, porque não há nada mais livre que o caos da vida e vivê-lo é sempre desafiador. Há quem compreenda e valorize a grandeza que é esse caos. Acho que o Fred é desses…
Bruno Cunha: E nos momentos em que ele se relaciona com outras pessoas, como foi se preparar para estas cenas, já que ele (personagem) vê isto de um forma diferente, do que a maioria das pessoas pensam.
Túlio Starling: Eu acho que me preparei primeiro levando em consideração que se o Fred é um cara que atribui um valor libertário aos desejos, o faz de maneira genuína e por isso estabelecendo um valor absoluto ao presente, ao agora. E, se o agora é uma dimensão do real, a realidade se dá na relação entre tudo que se estabelece no presente. O corpo e o espaço, o corpo e os outros corpos, o corpo e tudo que compartilha desse agora. Então, imaginando isso tudo, há um sentido de presença no sexo, de relação horizontal com o desejo, sem hierarquias de imposição tipo “quero desejar assim, ou essa pessoa, ou nesse momento”. É um desejo que respira. E acha isso o máximo!
Porque uma história sempre faz recortes pra poder se estruturar: no filme o Fred só se relaciona com mulheres, por exemplo; as cenas de sexo são importantes pro filme, mas o filme não é exatamente sobre elas; mas o que a gente faz é sempre ampliar os sentidos de uma imaginação pra além do contado, pra que o contado tenha vida, mistério, sugestão.
Leia a crítica de A Porta ao Lado