Em um filme que busca explicar e não acusar, O Charlatão mostra que a história de uma pessoa precisa ser mostrada com cuidado e com detalhes. Confira a crítica completa.
A vida de Jan Mikolášek, um curandeiro tcheco conhecido e bem-sucedido, que diagnosticou e curou pessoas usando sua intuição e sua familiaridade com as plantas. Seus remédios e prescrições, embora principalmente à base de plantas, incluíam mudanças no estilo de vida e na dieta alimentar. Ele curou não apenas pessoas pobres das aldeias, mas também muitas pessoas conhecidas, incluindo o presidente da Checoslováquia, Antonin Zápotocký. Os métodos de diagnóstico e cura notórios de Mikolášek chamaram a atenção do regime comunista tcheco. Ele foi finalmente preso depois que estricnina foi encontrada nos corpos de dois homens que ele havia tratado.
A diretora Agnieszka Holland sabe da importância da história que tem em mãos, e não traz um filme biográfico comum, temos aqui um filme cheio de camadas, mostrando toda a vida do protagonista com proximidade, além de fazer uma jornada que traz o presente e o passado do protagonista em uma montagem que mescla estes dois momentos
Essa abordagem diferente é inusitada pelo andamento da história que vemos, ele tem um primeiro ato linear sem grandes mudanças, ao avançarmos na história essa troca de linhas temporais é mais presentes e sempre feita de uma forma certeira, agregando detalhes.
O protagonista tem uma ascensão que o longa acaba dando mais protagonismo, afinal é uma medicina alternativa que é apresentada focando no lado humano do personagem. Mostrando que ele acredita que está fazendo o certo e que está curando pessoas.
Claro, que não temos uma pessoa perfeitas, as linhas do tempo são para justamente mostrar que os problemas não são no tratamento e sim na sua vida pessoal. Essa humanização da pessoa real é essencial para trazer empatia para o espectador e mostrar que a perfeição não existe.
A troca de passado e presente é sutil e caminha bem pelo filme, não se trata de uma estratégia de mudar a narrativa no momento de alguma revelação. A diretora usa estes recursos como elemento narrativo e contemplativo. E ainda altera as cores de cada momento, temos um passado mais claro e colorido e um presente mais escuro e cinza.
Apenas alguns elementos fora de Jan e um pouco fora do esperado, como ele tratou pessoas importantes do governo e após isso é acusado de colocar estricnina nos medicamentos. Não fica claro que isso é um erro, uma puxada de tapete ou problemas internos no governo. A mudança de postura é abrupta em alguns atos e geram confusão, algo que não condiz no filme como um todo.
O longa também trata o amor entre os protagonistas da forma correta e com realismo, o relacionamento homoafetivo aqui é um subtrama que aborda os principais problemas da época, e mesmo um pessoa que busca curar o máximo de semelhantes possíveis, poderia ser visto como errado e até ser morto por isso. A diretora imprime as emoções na tela aliada a atuação de Ivan Trojan e Juraj Loj.
As atuações da dupla trazem muita cumplicidade já que trabalham juntos, as cenas mostram de como cada um percebe o relacionamento. E como quer viver este amor a sua forma e vontade, isso traz realidade ao abordar que o amor é diferente para cada um.
O Charlatão é um filme de narrativa real que busca mostrar toda a vida do protagonista, dentro e fora do consultório, sem esconder nada do espectador, para que ele julgue o certo e errado e se os métodos mostrados, sem a parte medicamentosa, se é abordagem correta para aquela situação.
Nota: 3/5
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