Em um filme que trabalha temas jovens com exatidão, Raia 4 chega os cinemas com uma história coesa e sensível. Confira a crítica completa.
Amanda é uma nadadora pré-adolescente. Quieta e reservada, encontra, embaixo d’água, lugar onde os segredos não podem ser ouvidos, um refúgio. O conflito com os pais, as pressões do esporte e da fase da vida, tudo parece se acumular no entorno de Amanda, que acaba se aproximando de Priscila, uma colega de equipe.
O longa usa a competição de natação, como um grande de pano de fundo para uma história de descoberta de sexualidade e de relações entre adolescentes e adultos.
E o esporte aqui é o porto seguro de Amanda (Brídia Moni), já que ela tem dificuldades de se abrir com os pais sobre o que passa em sua cabeça. Aqui temos um filme descoberta que segue a cartilha do gênero coming of age. Claro, que temos um filme brasileiro, a referência fica apenas no tipo de filme.
Temos uma jornada linear, um espaço de tempo na vida da protagonista, mas mesmo sendo um pequeno espaço de tempo, a história escrita e dirigida por Emiliano Cunha (A Benção) traz muitas narrativas adolescentes com uma dose de realidade contida e diálogos bem colocados.
A parte técnica de Raia tem um desafio nas mãos, pois fica claro que é na água que a protagonista se sente segura, então temos cenas até mesmo poéticas destes momentos de conexão, a trilha é um acerto e traz uma carga emocional deixando claro os sentimentos e a conexão.
O elenco em sua maioria é jovem, mas todos respondem bem as cenas, principalmente por trazer atores e atrizes que condizem com as idades dos personagens, os diálogos não acarretam um grande arco dramático, mas são carregados de realidade adolescente e filmados com dinamismo.
Mesmo carregando a cartilha do coming of age embaixo do braço, o roteiro explora os problemas adolescentes do jeito brasileiro, sem precisar de nenhum artificio de outro país para contar a história. O que vemos na cena condiz com qualquer grupo de jovens reunidos. Os assuntos discutidos são críveis e agregam a narrativa.
O filme não tem fatos crescentes, então temos o mesmo ritmo em todos os atos, mudando apenas os acontecimentos, um acerto interessante, já que como não temos grandes pontos de viradas, temos uma história que envolve o espectador com suas verdades.
Os atores jovens são o centro da narrativa e se desenvolvem bem dentro do papel que condizem com a idade que aparentam, isso traz muita verossimilhança e condiz ainda mais com os diálogos e abordagens colocadas pelo filme.
Raia 4 também sabe utilizar o poder de uma trilha sonora para desencadear efeitos nos espectadores, nas cenas em que há ligação entre protagonista e água, as canções clássicas conseguem transmitir os sentimentos, mesmo sem uma vocalização, fora que a forma com que vemos aquela imensidão azul da piscina, fica ótimo nos planos mais abertos.
O longa dirigido por Emiliano traz uma história de conexão, verdadeira e de fácil entendimento, principalmente para um público mais jovem. Mesmo sendo apenas um recorte na vida de Amanda, ele consegue tocar e ser de fácil compreensão.
Nota: 4/5
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