Em uma história bem-humorada baseada na obra de Ariano Suassuna, O Auto da Boa Mentira traz um filme divertido e despretensioso aos cinemas.
Dizem que mentira tem perna curta. Se isso é verdade, a bichinha corre rápido, viu! Em quatro histórias inspiradas em contos bem-humorados de Ariano Suassuna, cada uma criada a partir de frases do poeta paraibano, conhecemos Helder (Leandro Hassum), Fabiano (Renato Góes), Pierce (Chris Mason) e Lorena (Cacá Ottoni), vivendo diferentes situações em que, ironicamente, a mentira é sempre a protagonista.
Temos uma história diferente das adaptações já feitas, pois temos quatro histórias diferentes, cada uma, com um elenco e narrativa diferente que não se intercalam ou se cruzam em nenhum momento, há até uma preocupação na fotografia em trazer três tons diferentes. A única coisa que as une, é a mentira dita.
Todas as narrativas têm um efeito de bola de neve, já que uma mentira desencadeia os eventos a seguir, mas a criatividade dos contos aliados a um elenco centrado, não traz nenhum marasmo ou os mesmo pontos de virada marcados. Elas podem até iniciar da mesma forma, mas fecham de uma jeito inusitado, todas elas.
O elenco é diverso, mas nas quatro histórias há um individualismo da pessoa que conta a mentira e isso faz com que haja interações com o restante do elenco, como já dito, o final é interessante, acabamos nem percebendo que todas começam da mesma maneira.
O diretor José Eduardo Belmonte (Carcereiros: O Filme) tem um desafio aqui, pois ele tem quatro núcleos separados, então ele busca uma direção segura no sentido de captação de imagens e diálogos, e brinca com os planos e fotografias diferentes aproveitando a deixa causada pela lacuna das histórias. A segunda história é um exemplo, pelos tons escuros e olha que ela se passa em um morro no Rio de Janeiro.
Por cada ator/atriz ter pouco tempo de tela, então temos muitos personagens caricatos, como o gestor tímido, o gringo e a estagiária. Os diversos grupos souberam trazer isso e conseguem transparecer isso com segurança na tela, pena que são tão marcados que depois da exibição podemos até esquecer de um ou de outro.
Aqui não temos a típica comédia brasileira, cheia de bordões, ações e trocadilhos. Temos sim um filme leve e contido, que busca encantar pela história e envolver o espectador nas falcatruas. E olha que os mentirosos aqui são criativos, temos a mentira social, a mentira pra se dar bem e tantas outras, que mesmo sendo baseadas na obra de Ariano possuem uma dose de realidade.
O tom leve e sem profundidade é o mesmo durante os quatro atos, temos aqui o típico filme que buscamos ver quando queremos uma distração, com um boa história e qualidade de imagem. O Auto da Boa Mentira tem tudo isso, e encanta.
Não temos aqui um primor ou um longa que se sobressai das comédias atuais, mas temos um filme decente, bem executado e que mantém o tom das obras de Ariano mostrando como suas obras conseguem nos fazer sorrir com apenas uma mentira.
Nota: 3/5
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