Cinema, Crítica de Filme

Bem Vinda, Violeta | Crítica

Bem-vinda, Violeta é uma trama complexa e difícil, que traz reflexões importantes sobre o subconsciente humano e seu lado mais agressivo. Confira a crítica completa.

O filme começa nos apresentando Ana, que está iniciando suas aulas em uma espécie de laboratório literário na residência, localizada nas Cordilheiras e comandada por Holden, um escritor que queimou todos seus livros e agora dedica sua vida apenas a esta oficina para escritores.


O longa é dividido em capítulos, em que nos aprofundamos mais na história de cada personagem, lugar, ou sentimento, no decorrer do filme. Na primeira aparição de Holden, ele diz: “vocês não estão aqui porque querem, estão aqui porque precisam”, o que demonstra que ele realmente acredita que aquela é a “salvação” que os escritores necessitam, e que a residência pode expandir a capacidade deles, até eles de fato se tornarem parte dos livros que escrevem, custe o que custar.


Em uma das cenas mais importantes, que até chega a ser uma premonição do que virá a seguir, Ana conta a seus colegas de residência mais sobre a história da personagem que está escrevendo, Violeta. Ela explica que sua personagem é emocionalmente instável e se envolve com um homem 30 anos mais velho e viúvo, Tomás, que era seu professor, e após expor o relacionamento publicamente é expulso da escola em que lecionava.

Violeta o maltratava e ele não se importa pois a amava de verdade, e pouco a pouco os dois personagens vão enlouquecendo, quebrando as coisas um do outro e até se machucando fisicamente. Os dois decidem morar numa cabana nas montanhas e vivem sem referências do mundo exterior. Um dia, Tomás compara Violeta a um vinho estragado, dizendo que aquele é o mais amargo que já tomou, assim como Violeta é a pessoa mais amarga que conheceu.


No fim de seu livro, Ana explica que Violeta o mata empurrando-o de um precipício das montanhas em que viviam. Ana é questionada se aquilo seria um suicídio de Tomás, com a ajuda de Violeta, ou um assassinato; ela explica que seu livro tem um final em aberto, mas afirma que essa foi a única forma que Tomás encontrou de se libertar da relação em que os dois viviam. Ana ainda afirma que esse foi um ato de libertação que Violeta o concedeu, livrando Tomás de uma relação em que ele nunca seria amado, sendo seu único ato de
amor por ele.


Ana conta que Violeta é imprevisível e violenta, sendo o oposto dela, mas Holden a confronta dizendo que Violeta é apenas uma forma de Ana expressar sua verdadeira face.

Como espectadores, vamos nos angustiando e aprofundando cada vez mais na história de Ana, que aos poucos se confunde com a de Violeta, tornando-se um pseudônimo.

Em quase todo filme, a fotografia traz cores frias e sem vida, mesmo quando as cenas são externas e usam a iluminação natural da Patagônia argentina, onde foi gravado.


Aos poucos, todos da residência vão se demonstrando estarem mais parecidos com seus personagens, como uma residente que escreve sobre uma cleptomaníaca, e depois faz o mesmo indo a um bar e roubando um óculos e um casaco de uma senhora. Começando lentamente a se entregar a sua personagem, Ana arremessa o celular no rio, ficando sem comunicação. Alguns dias depois, tenta beijar Holden, agora o enxergando como Tomás era para Violeta.

A atuação, não só do elenco protagonista, mas também dos coadjuvantes, é precisa em passar os sentimentos de tensão e angústia ao longo da trajetória que percorrem.

Se tornando lentamente Violeta, Ana quebra seu próprio notebook, e tenta enforcar sua colega de quarto por esconder seu livro. Além de começar a se sentir mais confortável escrevendo em uma parte abandonada e quebrada da residência, assim como a cabana de sua personagem.


Em uma das cenas, um dos residentes chama o lugar de hospício, o que ao longo do filme podemos considerar como uma ótima analogia, visto que todos ali vão perdendo a sanidade aos poucos para se entregarem aos seus livros. Com métodos intensos, sobrecarregando os escritores, Holden consegue transformá-los em seus próprios personagens, retornando a uma de suas frases: “não há nada que explique melhor uma pessoa do que as fantasias que ela tem”.

Crítica por Brenda Locatelli

Edição e postagem: Bruno Cunha

Nota: 4/5

Contato: naoparecemaseserio@gmail.com

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