Em um curta que sabe brincar com a sensação de realidade do espectador, Lazarus mostra que escolhas simples são suficientes para contar uma boa história. Confira a crítica do curta que entrega o FESTCINE 2022
A sensação de realidade, aquele sentimento de sabermos que estamos sonhando ou se estamos realmente vivendo aquela sensação. O curta Lazarus sabe mexer com a cabeça para o fazer embarcar na história.
O personagem principal sofre de demência, com sintomas de Alzheimer e Corpos de Lewy, doenças cujas principais características são esquecimentos e alucinações, além de termos personalidades diferentes quando ele está bem e quando ele perde o controle.
O ato inicial entende essa confusão, e sabe dar ‘pistas’ das alterações de Lázaro, seja por mudanças de luz, onde a troca entre o dia e noite. O espectador precisa se acostumar inicialmente com o que virá, mas não espere previsibilidade. O roteiro também quer colocar a ‘loucura’ para quem está assistindo. Ficar em dúvida é normal aqui.
O elenco está apto para a mudança, principalmente o ator que faz Lázaro, ele transita entre os sentimentos com facilidade, se enfurece e fica feliz na mesma linha de diálogo. O dinamismo entre as cenas facilita o processo, e por termos momentos reais, como os cuidados da idade, deixa tudo ainda mais pesado.
O terror aqui está para mais thriller psicológico, por justamente brincar com a mente do espectador, mas o que surpreende são as escolhas técnicas para mostrar as alterações dos protagonistas, são todas simples, mas eficazes. Claro que há algumas referências no terror dessas práticas, mas todas funcionam.
A fotografia também entende as oscilações do que ocorre em cena, seja pela entrada de luz natural quando o personagem está ‘bem’ e cores escuras em momentos de surto, mas o que chama a atenção é a construção deste padrão ao longo do curta, para tentar ajudar o espectador no que ocorre, mas demanda sua atenção em cenas particulares.
A história demora a engrenar, por se tratar de um curta, mas quando percebemos, estamos imersos, e tentando juntar peças. Seja pela grande interpretação do elenco, ou pelas escolhas técnicas que buscam mostrar o que se passa pela cabeça de Lázaro.
Algumas escolhas são esperadas e previsíveis, mas nada que comprometa a narrativa principal. A escolha por um apocalipse com elementos religiosos é padrão para histórias desse porte, os que gostam deste gênero, irão perceber as referências aqui e ali.
A separação de atos é interessante, por justamente acompanhar o crescimento do protagonista em meio a seus problemas. Em um primeiro momento parece excessivo, mas se justificam no final. A montagem soube utilizar este crescimento a favor do curta.
Lazarus é um grande exemplo de como uma ideia simples, com um boa execução vale mais a pena, do que uma grande produção com uma história rasa. E trazer o espectador para a história, onde ele fica em dúvida quando é real ou alucinação, faz a diferença no produto final.
Nota: 4/5
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