Em um filme com uma ótima história, com excelentes atuações. ‘Boca de Ouro’ baseado na obra de Nelson Rodrigues chega aos cinemas. Confira a crítica.
Boca de Ouro (Marcos Palmeira) conta a história de um temido e respeitado bicheiro, figura quase mitológica no bairro de Madureira (Rio de Janeiro) durante os anos 50. Sua ambição, amores e pecados despertam a curiosidade do jornalista Caveirinha (Silvio Guindane), que procura uma ex-amante (Malu Mader) do contraventor para colher material para uma reportagem sobre a sua vida.
Daniel Filho retorna no cargo de diretor, depois de trabalhar na outra versão cinematográfica da obra literária, e percebe-se logo na primeira cena percebemos que este filme busca seu próprio caminho, seja na fotografia que lembra ‘Beijo no Asfalto’ (2018), com cenas mais fluídas e melhor uso do elenco coadjuvante, mesmo que Boca de Ouro seja o foco principal, o elenco tem ótimas cenas.
Marcos Palmeira teve a responsabilidade de personificar ‘Boca de Ouro’, e sua interpretação traz muitos elementos da sociedade da época, além de traz toda uma malevolência ao personagem, estes detalhes fazem com que toda vez que ele esteja em cena, você preste atenção nele. Era uma responsabilidade enorme, mas o resultado é ótimo.
As outras atuações além de ‘Boca’ também se destacam, Lorena Comparato (Celeste) realiza as transformações da personagem ao longa da narrativa com muita sutileza, com cenas bem fortes. Malu Mader (Guigui) traz muita força a amante do protagonista e soube realizar diferentes interpretações da personagem ao longo do filme.
Daniel Filho traz muita fluidez as cenas, já que quase sempre temos boa parte do elenco em cena com diversas falas e interações, ele traz a câmera para próximo quando é necessário um carga mais dramática, mas ele também a afasta para mostrar a movimentação dos personagens na cena, algo bem teatral.
Como o livro lida com diversas linhas temporais, com acontecimentos diferentes a cada nova história, isso era primordial na nova versão cinematográfica. Isso ocorre, de uma forma bem marcada, mas cada traz novos elementos a narrativa, não deixando a história cansada ou repetitiva.

Mesmo se tratando de uma história datada, a parte técnica, como a fotografia, tem marcas do cinema atual, como a saturação de cor para algumas cenas, além do preto e branco bem marcado em algumas cenas. Essa parte está alinhada as ótimas atuações e traz muita verossimilhança para a época mostrada em ‘Boca de Ouro’
‘Boca de Ouro’ é uma adaptação fidedigna da obra original, mesmo quando ele traz mais elementos da peça de teatro do que do livro, mas como há o respeito pela obra de Nelson Rodrigues, não há motivos para preocupação.
Nota: 3/5
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