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| Os Olhos de Cabul | Crítica

Confira a crítica de ‘Os Olhos de Cabul’

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Uma fórmula batida nos filmes hollywoodianos é quando representam o oriente médio tem sempre um filtro sem cor, poucas expressões faciais e até mesmo ‘um ar frio’ nos inimigos, mas nos primeiros segundos da animação ‘Os Olhos de Cabul’ percebemos que será uma história dura, mas ela será contada como com a cor certa, com música ao fundo, sem se apoiar nos estereótipos citados.

A animação das francesas Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec mostra a cidade de Cabul, no Afeganistão, ocupada pelo Talibã em 1998. Ao ler isso automaticamente você imagina uma atmosfera violenta e dura, mas o casal Mohsen (Swann Arland) e Zunaira (Zita Hanrot) são um casal apaixonado que, apesar da violência e destruição a sua volta, desejam acreditar que há esperança em seu futuro.

O casal protagonista é o respiro de leveza e pureza de espírito do filme e o inteligente roteiro de Zabou, faz deles casal consciente dos problemas que os cercam, de como eles podem mudar essa situação através da educação, ou seja, de uma forma elementar para elevar a qualidade de vida de um país.

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Cena de ‘Olhos de Cabul’ – Foto: Divulgação – Vitrine Filmes

Claro que não estamos a salvo da realidade dura aqui, ela fica restrita as interações do casal fora da casa e ao personagem Atiq (Simon Abkar) que faz uma espécie de guarda de prisão, onde mulheres que desrespeitam a religião são levadas e por sequência apedrejadas. Mostrando que como a religião mulçumana é diferente para homens e mulheres.

A abordagem religiosa feita aqui consegue tocar nos pontos necessários, trazendo diversas discussões sobre feminismo, direitos e deveres. O filme mostra uma narrativa questionadora, bem costurada e com diversos pontos de vista de várias faixas etárias e locais de poder.

Os traços escolhidos pelas diretoras podem parecer simples inicialmente, mas estas escolhas se mostram ótimas para mostrar as diferenças que a sociedade possui. Ao escolher o azul para as vestimentas obrigatórias das mulheres que cobre o corpo inteiro, facilita ao espectador perceber o papel coadjuvante da mulher na sociedade, dificilmente ela está no centro, sempre renegada a estar longe de tudo na sociedade.

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Cena de ‘Olhos de Cabul’ – Foto: Divulgação – Vitrine Filmes

O desenvolvimento da narrativa também reserva espaço a transformação de pensamentos, pois algumas pessoas podem mudar de posição ideológica ao ver como a sociedade reage a uma situação, tanto do bem para o mal, quanto ao contrário. Essas mudanças de raciocínio também não segue as regras esperadas, o que traz discussões necessárias quanto a cultura de um povo pode transformar o comportamento humano.

O longa traz uma história dura sem dúvida nenhuma, sem rodeios, mas consegue ser político, direto e transgressivo. A posição de enquadramento ou os traços personagens da animação lembrarem os atores que fazem as vozes originais, dando um toque humanista a narrativa com diversas semelhanças ao mundo real e a uma realidade que infelizmente não ficou restrita ao ano de 1998.

* Filme visto no projeto Cinema Virtual

Nota 4/5

Saldo: Filme seríssimo

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