Infantil, colorido e consciente, O Diário de Pilar na Amazônia encontra na fantasia um caminho para falar de natureza e pertencimento.

O Diário de Pilar na Amazônia entende muito bem o tipo de história que quer contar e para quem quer falar. Ao situar sua narrativa na Amazônia, o filme não usa o cenário apenas como pano de fundo exótico, mas como parte essencial do discurso que constrói, um espaço onde natureza, família, fantasia e consciência ambiental se entrelaçam com naturalidade.
A relação entre Pilar e o ambiente ao seu redor é estabelecida com facilidade, sem didatismos excessivos. O filme sabe que está dialogando com um público infantil, mas não subestima sua inteligência. As causas ambientais estão bem pautadas, sempre acompanhadas de uma camada generosa de fantasia, o que torna o discurso mais acessível, leve e envolvente. Há consciência, mas também encantamento, e esse equilíbrio é um dos maiores acertos da obra.
A vilania assume um tom claramente caricato, mas isso não joga contra o filme. Pelo contrário: dentro da atmosfera infantil proposta, essa escolha funciona de maneira orgânica. As caricaturas são bem delineadas, funcionais e ajudam a reforçar os conflitos de forma clara, quase como em um desenho animado, sensação que o filme abraça sem medo. Existe aqui um “q” de animação que atravessa tanto o tom quanto a construção dos personagens.
O elenco mirim é um dos grandes destaques. Lina Flor entrega uma Pilar carismática, curiosa e fácil de acompanhar, sustentando o protagonismo com segurança. Ao seu lado, Miguel Soares (Breno), Sophia Ataíde (Maiara) e Thúlio Naab (Bira) formam um grupo coeso e surpreendentemente afinado. A química entre eles fortalece a narrativa e ajuda a criar uma jornada envolvente, onde amizade e descoberta caminham juntas.

Visualmente, o filme encontra beleza na própria natureza. A fotografia surpreende ao privilegiar a luz solar, com filtros que valorizam o verde, a água e a sensação de calor e vida da floresta. Essa escolha estética reforça o vínculo emocional com o ambiente e contribui para o clima de aventura e descoberta constante.
O uso do folclore brasileiro é outro ponto positivo. Ele surge de forma orgânica e explicativa, sem soar forçado ou apenas decorativo. O filme apresenta esses elementos com cuidado, ajudando o público infantil a compreendê-los enquanto os integra naturalmente à fantasia proposta. É uma abordagem didática na medida certa, que respeita tanto a tradição quanto o ritmo da narrativa.
Os efeitos visuais apresentam alguns problemas pontuais de CGI, mas nada que comprometa a experiência como um todo. Essas limitações ficam evidentes em momentos específicos, porém são compensadas pela criatividade nas escolhas temáticas e pela clareza do tom adotado. O filme sabe até onde pode ir e trabalha dentro desses limites com inteligência.
O Diário de Pilar na Amazônia revela uma obra infantil consciente, criativa e funcional. Um filme que abraça o lúdico, dialoga com pautas ambientais de forma responsável e encontra na fantasia um caminho eficaz para formar, encantar e divertir. É infantil, sim, mas nunca vazio. Pelo contrário: é um convite à curiosidade, ao cuidado e à imaginação.
Nota: 4/5
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