Gloria Pires entrega maturidade, humor e coragem em um filme sobre recomeços possíveis.

Em Sexa, Gloria Pires assume um duplo desafio: protagonizar e dirigir um filme que olha para mulheres de 60 anos com honestidade, humor e uma maturidade rara na comédia nacional. E o mais interessante é que o longa não tenta “rejuvenescer” sua protagonista nem colocá-la em situações artificiais para gerar graça. Pelo contrário: a força do filme está justamente no pé no chão, nessa naturalidade que acompanha a vida real, aquela que passa sem pedir licença, muda rotinas, desafia convicções e, às vezes, abre espaço para novas conexões inesperadas.
O roteiro entende bem esse caminho. Ele não subestima o público e não tenta simplificar temas que, na vida adulta, são bem mais complexos do que parecem: solidão, desejo, reconstrução afetiva, escolhas tardias e a necessidade de ressignificar o próprio lugar no mundo. A amizade entre as personagens de Gloria Pires e Isabel Fillardis funciona como a base emocional da história, construída com tempo, troca e muito carisma. Não é só uma amizade “de roteiro”; ela é orgânica, cheia de camadas e com aquele senso de parceria que só amadurece com a vida.
A direção de Gloria Pires surpreende também pela maneira como mantém seus personagens sempre em foco. Não há pressa, não há exagero, com muita intenção. Mesmo quando o filme flerta com o humor, ele nunca abandona o respeito pelos conflitos que coloca em cena. Os enquadramentos, as pausas e o modo como a câmera observa os atores revelam alguém que conhece muito bem o material humano que tem em mãos.

E quando Sexa aborda tabus, especialmente o relacionamento da protagonista com o personagem de Thiago Martins, a condução é cuidadosa. O longa não trata a diferença de idade como piada pronta, mas como parte de uma construção emocional legítima, repleta de nuances. As novas relações, as novas formas de família e os novos desejos aparecem sem caricatura, sem julgamento moral, com a serenidade de quem entende que amadurecer não é sinônimo de encerrar possibilidades.
No fim, Sexa funciona porque entende que viver aos 60 não é um ato de resistência ou de reinvenção obrigatória: é simplesmente viver. E o filme encontra beleza, graça e profundidade nesse cotidiano tão real quanto necessário.
Nota: 4/5
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