Cinema, Crítica de Filme

Perfeitos Desconhecidos | Crítica

Um encontro entre amigos que transforma conversas triviais em um jogo delicado de segredos, intimidade e tensão crescente.

A adaptação nacional de Perfeitos Desconhecidos acerta ao entender que sua força não está no impacto imediato dos segredos, mas no caminho até eles. O filme começa apresentando personagens distintos, com entrames iniciais bem definidos, que se encontram para um simples dia de lazer entre amigos. Nada parece forçado ou acelerado: as relações se constroem de forma orgânica, quase despretensiosa, como se o espectador estivesse apenas observando uma convivência comum, cotidiana, dessas que carregam muito mais do que aparentam.

Ao longo desse encontro, o longa se dedica a explorar as amizades entre eles com cuidado e inteligência. São vínculos complementares, marcados por afetos, diferenças, silêncios e pequenas tensões que já estavam ali antes mesmo da narrativa começar. O roteiro entende que intimidade não se cria do nada, ela é revelada aos poucos, e faz disso sua principal engrenagem dramática, usando o convívio e as conversas triviais como base para algo muito mais profundo.

A decisão de concentrar toda a ação em uma única locação, a casa do casal “principal”, é sustentada com segurança por um elenco afiado e extremamente coeso. Danton Mello, Deborah Lamm, Fabrício Boliveira, Giselle Itié, Luigi Montez, Madu Almeida e Sheron Menezes estão todos em excelente forma, cada um com arcos bem definidos e momentos próprios para brilhar. Não há disputas por protagonismo: o filme aposta no conjunto, permitindo que cada personagem tenha seu espaço narrativo sem sobrepor o outro.

Essa ausência de um protagonista central é um dos maiores acertos da adaptação. O foco está no grupo, nos contrastes geracionais, nas diferentes fases da vida e nos temas que atravessam cada idade. As conversas, aparentemente banais, funcionam como gatilhos para revelar conflitos mais profundos, sempre guiados por uma lógica clara de causa e consequência. Cada ação gera um efeito, cada fala desloca o equilíbrio do grupo, e nada acontece por acaso.

A tensão, por sua vez, surge de forma natural e crescente. Não há rupturas artificiais ou viradas bruscas: o clima vai se transformando conforme o “churrasco entre amigos” avança e os segredos começam a emergir. O filme mantém uma linguagem acessível e realista, o que torna esses conflitos ainda mais incômodos, porque são reconhecíveis. O espectador se vê refletido ali, seja nos personagens, seja nas situações que expõem fragilidades, limites e contradições.

Conforme a intimidade entre eles se aprofunda, o filme conduz o público com precisão, revelando camadas emocionais sem abandonar o tom orgânico que estabelece desde o início. O resultado é uma adaptação que respeita a essência da obra original, mas encontra identidade própria ao apostar na força do texto, do elenco e das relações humanas. Um filme que cresce silenciosamente, sustentado pelo desconforto do que é dito e, principalmente, do que é escondido.

Nota: 4/5

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