Sydney Sweeney e Amanda Seyfried protagonizam um jogo de aparências e desconfiança

Baseado no livro de Freida McFadden, A Empregada constrói seu suspense a partir da observação, da convivência e das pequenas fissuras que surgem dentro de uma relação aparentemente funcional. Desde o início, o filme deixa claro que seu interesse não está em choques imediatos, mas no desconforto progressivo que nasce da intimidade forçada entre pessoas que pouco sabem umas sobre as outras e escondem mais do que demonstram.
O grande trunfo do longa está no elenco primoroso e bem equilibrado. Sydney Sweeney, como Millie, carrega o ponto de vista central da narrativa com uma atuação contida, marcada por silêncios, olhares e uma constante sensação de alerta. Sua personagem é construída com cuidado, permitindo que o espectador se aproxime dela aos poucos, entendendo suas motivações, fragilidades e escolhas sem que o roteiro precise explicitá-las o tempo todo.
Amanda Seyfried, no papel de Nina, funciona como o eixo mais instável da trama. Sua presença em cena nunca é previsível: ora vulnerável, ora agressiva, ora excessivamente cordial. O roteiro sabe explorar essas oscilações com inteligência, transformando Nina em uma figura que gera dúvida constante, tanto para Millie quanto para quem assiste. Seyfried entrega uma performance cheia de nuances, essencial para manter o clima de tensão psicológica que atravessa o filme.

Brandon Sklenar, como Andrew, completa o trio central com uma atuação que aposta na ambiguidade. Seu personagem ocupa um espaço silencioso, quase sempre mediador, mas nunca totalmente transparente. O roteiro entende a importância de não revelar demais e dá a ele um tempo próprio de construção, fazendo com que sua presença seja tão inquietante quanto a dos demais, mesmo quando parece estável.
A estrutura narrativa de A Empregada é paciente. O roteiro sabe dar espaço para cada personagem, permitindo que as relações se formem gradualmente, sem atalhos. A dinâmica entre Millie e Nina, em especial, é construída a partir de gestos cotidianos, pequenas tensões e diálogos aparentemente banais, que ganham peso conforme o convívio se intensifica. É nesse acúmulo que o filme encontra sua força.
O suspense nasce menos de acontecimentos extremos e mais da sensação constante de que algo está fora do lugar. A casa, os hábitos, as conversas e os silêncios funcionam como elementos narrativos tão importantes quanto as ações em si. O filme aposta em uma progressão cuidadosa, onde cada cena adiciona uma nova camada de estranhamento, reforçando a lógica de causa e consequência que sustenta a trama.
Conforme a relação entre os personagens se aprofunda, o longa conduz o espectador por caminhos que desafiam percepções iniciais. O que parecia simples se revela mais complexo, e o que parecia seguro passa a gerar dúvida. Sem depender de reviravoltas gratuitas, A Empregada prefere reorganizar o olhar de quem assiste, mostrando como a proximidade pode ser tão ameaçadora quanto a violência explícita.
O filme se sustenta como um thriller psicológico eficiente, apoiado em atuações sólidas, um roteiro bem dosado e uma atmosfera que nunca se dissipa. A Empregada entende que o verdadeiro medo não está apenas no que acontece, mas no que se revela quando pessoas dividem o mesmo espaço e passam a conhecer demais umas às outras.
Nota: 4/5
Contato: naoparecemaseserio@gmail.com
Youtube: Canal do Youtube – Não Parece Mas É Sério
Facebook: facebook.com/naoparecemaseserio
Instagram: @naoparecemaseserio