Cinema, Crítica de Filme

Uma Mulher Sem Filtros | Crítica

Uma comédia leve que encontra profundidade nas pequenas transformações da vida adulta.

Crédito: Laura Campanella

Uma Mulher Sem Filtros se apresenta como uma comédia aparentemente simples, mas que rapidamente revela um cuidado incomum com suas personagens e seus temas. É um filme de fácil entendimento, e isso é uma qualidade, que usa a espontaneidade do humor para aproximar o espectador de uma protagonista cheia de camadas, conflitos e necessidades reprimidas. A direção entende que, por trás do riso, existe sempre algo que precisa ser dito, e é justamente nesse equilíbrio que a obra encontra sua força.

No centro de tudo está Fabiula Nascimento, que entrega uma protagonista capaz de transitar entre o cômico e o dramático com naturalidade e sem perder profundidade. Sua personagem vive um relacionamento longo, mas claramente desgastado, sustentado mais por hábito e convenção do que por conexão real. Ao mesmo tempo, enfrenta um ambiente de trabalho que não reconhece seu valor, e essa mistura de frustração silenciosa e desgaste emocional se transforma no motor narrativo para a transformação que ela tanto evita, mas inevitavelmente precisa enfrentar.

A mudança que ocorre no trabalho, funcionando como uma espécie de estopim, desencadeia uma série de reações e decisões aparentemente impulsivas, mas sempre coerentes com o que a personagem vem acumulando ao longo dos anos. O filme faz esse movimento com leveza, sem perder seu tom cômico, mas também sem deixar que o humor anule a seriedade dos temas. É um equilíbrio delicado, e aqui ele funciona: a comédia surge como válvula de escape, não como distração.

Os conflitos apresentados  geracionais, familiares, amorosos se conectam de maneira orgânica à jornada da protagonista. Nada soa gratuito ou forçado; tudo compõe o mosaico emocional que ajuda o público a entender por que ela precisa mudar e por que reprime tantas coisas há tanto tempo. Esses temas são facilmente reconhecíveis, o que cria empatia instantânea. Quem assiste identifica pequenos pedaços de si mesmo nas frustrações dela, nos silêncios desconfortáveis, na sensação de estar sempre um pouco deslocada de onde deveria pertencer.

O filme também acerta ao investir em bons personagens secundários, que aparecem não apenas para preencher cenas, mas para complementar a trajetória da protagonista. Cada interação, seja com familiares, colegas ou interesses amorosos, adiciona nuance, amplia a compreensão do que ela enfrenta diariamente e reforça a ideia de que sua transformação não é uma ruptura repentina, mas um processo construído aos poucos, passo a passo

Essa soma de nuances transforma Uma Mulher Sem Filtros em uma comédia significativa, que mantém um olhar “pé no chão”, sem exagerar na dramatização ou cair em moralismos fáceis. É divertido, empático e consciente de suas intenções. E, mesmo com toda leveza, deixa clara a importância de reconhecer limites pessoais, reavaliar relações e buscar, finalmente, um espaço onde seja possível existir sem pedir desculpas por isso.

No final, o filme encontra justamente aquilo que promete: a espontaneidade da comédia com a solidez de uma história que sabe o que quer dizer e sabe como conduzir o espectador até lá. Uma obra que abraça sua protagonista, a deixa respirar, errar, mudar, e permite que o público caminhe ao lado dela nesse processo.

Nota: 4/5

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