Uma comédia leve que encontra profundidade nas pequenas transformações da vida adulta.

Uma Mulher Sem Filtros se apresenta como uma comédia aparentemente simples, mas que rapidamente revela um cuidado incomum com suas personagens e seus temas. É um filme de fácil entendimento, e isso é uma qualidade, que usa a espontaneidade do humor para aproximar o espectador de uma protagonista cheia de camadas, conflitos e necessidades reprimidas. A direção entende que, por trás do riso, existe sempre algo que precisa ser dito, e é justamente nesse equilíbrio que a obra encontra sua força.
No centro de tudo está Fabiula Nascimento, que entrega uma protagonista capaz de transitar entre o cômico e o dramático com naturalidade e sem perder profundidade. Sua personagem vive um relacionamento longo, mas claramente desgastado, sustentado mais por hábito e convenção do que por conexão real. Ao mesmo tempo, enfrenta um ambiente de trabalho que não reconhece seu valor, e essa mistura de frustração silenciosa e desgaste emocional se transforma no motor narrativo para a transformação que ela tanto evita, mas inevitavelmente precisa enfrentar.
A mudança que ocorre no trabalho, funcionando como uma espécie de estopim, desencadeia uma série de reações e decisões aparentemente impulsivas, mas sempre coerentes com o que a personagem vem acumulando ao longo dos anos. O filme faz esse movimento com leveza, sem perder seu tom cômico, mas também sem deixar que o humor anule a seriedade dos temas. É um equilíbrio delicado, e aqui ele funciona: a comédia surge como válvula de escape, não como distração.
Os conflitos apresentados geracionais, familiares, amorosos se conectam de maneira orgânica à jornada da protagonista. Nada soa gratuito ou forçado; tudo compõe o mosaico emocional que ajuda o público a entender por que ela precisa mudar e por que reprime tantas coisas há tanto tempo. Esses temas são facilmente reconhecíveis, o que cria empatia instantânea. Quem assiste identifica pequenos pedaços de si mesmo nas frustrações dela, nos silêncios desconfortáveis, na sensação de estar sempre um pouco deslocada de onde deveria pertencer.

O filme também acerta ao investir em bons personagens secundários, que aparecem não apenas para preencher cenas, mas para complementar a trajetória da protagonista. Cada interação, seja com familiares, colegas ou interesses amorosos, adiciona nuance, amplia a compreensão do que ela enfrenta diariamente e reforça a ideia de que sua transformação não é uma ruptura repentina, mas um processo construído aos poucos, passo a passo
Essa soma de nuances transforma Uma Mulher Sem Filtros em uma comédia significativa, que mantém um olhar “pé no chão”, sem exagerar na dramatização ou cair em moralismos fáceis. É divertido, empático e consciente de suas intenções. E, mesmo com toda leveza, deixa clara a importância de reconhecer limites pessoais, reavaliar relações e buscar, finalmente, um espaço onde seja possível existir sem pedir desculpas por isso.
No final, o filme encontra justamente aquilo que promete: a espontaneidade da comédia com a solidez de uma história que sabe o que quer dizer e sabe como conduzir o espectador até lá. Uma obra que abraça sua protagonista, a deixa respirar, errar, mudar, e permite que o público caminhe ao lado dela nesse processo.
Nota: 4/5
Contato: naoparecemaseserio@gmail.com
Youtube: Canal do Youtube – Não Parece Mas É Sério
Facebook: facebook.com/naoparecemaseserio
Instagram: @naoparecemaseserio