Um passatempo simpático que acerta no riso, mas escapa das discussões que promete.

Uma Advogada Brilhante é aquele tipo de filme que nasce de uma boa ideia, de um conceito que imediatamente chama atenção, mas que encontra dificuldades para se sustentar na execução. Há aqui um conjunto de temas fortes, personagens interessantes e um olhar contemporâneo que poderia render algo muito mais contundente. No entanto, a obra se vê presa a um tom de comédia que, embora garanta momentos divertidos, dilui parte do impacto que a narrativa poderia alcançar.
O filme traz personagens trans e conceitos narrativos que, em essência, possuem potência dramática e social. Existem nuances ali que poderiam se transformar em discussões mais ricas sobre identidade, representatividade, expressão de gênero e os conflitos internos e externos que nascem dessas vivências. No entanto, grande parte dessa força se perde nos excessos da comédia, não porque humor seja incompatível com temas sensíveis, mas porque aqui o humor muitas vezes atropela as possibilidades de aprofundamento. O resultado é um desequilíbrio entre intenção e entrega.
Ainda assim, Leandro Hassum se destaca. Mesmo dentro dos exageros visuais e cômicos que já fazem parte do seu histórico no cinema, ele encontra uma forma de surpreender. Constrói um personagem que tem timing, presença e um toque humano que, em alguns momentos, chega até a apontar para um filme mais interessante do que aquele que realmente temos. Seu desempenho é, sem dúvida, um dos motores que fazem o público permanecer engajado, especialmente quando a história parece se perder de si mesma.
O problema mais evidente surge quando o filme exige uma “troca de persona” do protagonista, um recurso que, em tese, deveria funcionar como chave narrativa para explorar temas de identidade, machismo, privilégio e reconhecimento de vivências alheias. No entanto, essa virada raramente alcança a profundidade que promete. Falta densidade emocional, falta peso, falta a sensação de que algo realmente está sendo transformado ali. A ideia existe, mas não é desenvolvida a ponto de causar impacto real.

Por outro lado, a obra acerta ao expor o machismo presente no ambiente da advocacia sem precisar recorrer a grandes discursos ou momentos dramáticos excessivos. Essas situações aparecem de forma natural, cotidiana, mostrando que a desigualdade nas relações de trabalho não depende de cenas grandiosas para ser percebida, está nos comentários, nas interrupções, na hierarquia silenciosa, nos olhares atravessados. É justamente aí que reside uma das melhores qualidades do filme: a capacidade de retratar temas pertinentes sem precisar sublinhá-los.
Entretanto, ao tentar equilibrar humor e crítica social, Uma Advogada Brilhante acaba ficando no meio do caminho. Ele quer divertir, e, sim, diverte, especialmente graças ao carisma de Hassum, mas não entrega o suficiente quando se trata de abordar suas temáticas mais sensíveis. O resultado é um saldo final irregular, que funciona como passatempo, rende boas risadas e alguns momentos inspirados, mas deixa claro que havia material ali para um filme muito mais relevante e memorável.
No fim, vale como entretenimento leve, como um produto acessível e simpático. Mas, quando olhamos para o que o filme poderia ter sido, fica uma pontada de frustração, uma sensação de que um projeto com tanto potencial merecia uma abordagem menos apressada e mais disposta a se aprofundar.
Nota: 1/5
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