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Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil | Crítica

Um documentário que ensina, emociona e revela um universo esportivo brilhante.

Em Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil, dirigido por André Bushatsky em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, encontramos um documentário que entende perfeitamente o que significa olhar para o esporte além do placar, além da medalha e da própria modalidade. O filme entra pelos bastidores da seleção brasileira de futebol de cegos com uma precisão narrativa admirável, construindo sua história de forma linear, detalhada e envolvente, permitindo que qualquer espectador, mesmo quem nunca teve contato com o esporte, compreenda sua estrutura, seus desafios e principalmente sua humanidade.

O longa mostra com maestria momentos de treino, bastidores, preparação, amistosos, competições decisivas e até pequenos detalhes que normalmente passam despercebidos, como a maneira que lesões acontecem, diferentes das do futebol convencional. Bushatsky e o CPB têm uma sensibilidade rara para equilibrar informação e emoção, deixando claro que não estão apenas documentando um processo esportivo: estão permitindo que a audiência conheça um universo inteiro. Para isso, o uso dos depoimentos de jogadores, da comissão técnica e de jornalistas constrói uma narrativa que explica, contextualiza, emociona e conquista.

O documentário se recusa a transformar seus personagens apenas em ídolos distantes. Em vez disso, traz os jogadores para o centro da obra, dando espaço às suas histórias pessoais, suas dificuldades, seus recomeços e suas conquistas. E é justamente isso que torna cada cena valiosa: ao ver o processo, entendemos melhor o resultado. O espectador percebe que o Brasil não se tornou referência mundial no futebol de cegos por acaso, foi pavimentado com trabalho cotidiano, foco, disciplina, adaptação e uma obsessão saudável por evolução constante.

Outro ponto forte é a dedicação à clareza. Não é um filme feito só para quem já conhece a modalidade. É um filme que explica o jogo, seus fundamentos, suas especificidades e, principalmente, suas singularidades sonoras, como a presença dos guias, o uso das balizas humanas e a importância quase coreográfica da escuta.

Além disso, o trabalho jornalístico inserido ao longo da narrativa funciona como uma ferramenta de estrutura e análise. Comentários de bastidores, dados históricos, contextualização de competições e recortes de imprensa ajudam a reforçar o peso das conquistas brasileiras, sem nunca retirar espaço dos protagonistas dentro de quadra. O resultado é um filme que celebra o esporte paralímpico sem tratar seus atletas como exceção ou superação isolada, mas como profissionais de altíssimo nível, com carreiras complexas e contribuindo ativamente para um capítulo especial da história esportiva nacional.

Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil é emocionante sem apelar, ensinando sem ser didático demais, e envolvente porque entende que o coração do esporte não está apenas no jogo, mas nas pessoas que o tornam possível. Um documentário que amplia a visão de quem assiste, mostrando que, quando se apaga a luz, o que permanece é aquilo que sempre deveria estar no centro: talento, esforço, emoção e humanidade.

Nota: 5/5

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