Cinema, Crítica de Filme

Aurora 15 | Crítica

Um terror que cresce bonito, mas não consegue sustentar o próprio peso

Aurora 15 começa como quem deixa o espectador entrar devagar em uma casa estranha. A câmera se move com cautela, as trilhas se espalham como um murmúrio pelos cômodos, e a fotografia escura molda cantos que o olho não alcança. É um filme que entende atmosfera e trabalha bem o tempo de deixar algo crescer no ar. José Eduardo Belmonte constrói essa tensão aos poucos, e o impacto disso é imediato: ficamos atentos, inclinados para frente, esperando o que vai rasgar aquele silêncio.

O elenco amplia esse desconforto com composições que se complementam. Carolina Dieckmann e Humberto Carrão formam um casal que chega à casa buscando um recomeço, tentando reorganizar afetos que já parecem frágeis. Marjorie Estiano surge como a corretora que tenta apenas fazer seu trabalho, tropeçando em si mesma e criando pequenos respiros num ambiente que já está à beira do claustrofóbico. E quando Olivia Torres, Milhem Cortaz, Juliano Cazarré e João Bourbonnais entram na roda, algo muda. A história ganha texturas sobrenaturais, uma presença que não é apenas “assombração”, mas algo que espreita e se infiltra. É como se a casa ganhasse voz. E de certa forma, ganha: o longa se passa quase inteiro ali dentro, e a arquitetura vira personagem, estrutura viva, memória que pulsa e observa.

A câmera se movimenta junto dos personagens, atravessa portas, transborda corredores, acompanha o olhar e o medo. Aos poucos, sangue e gore são adicionados à trama. Nada gratuito: ao menos num primeiro momento, parece consequência natural da tensão que vai se espalhando, como mofo que avança pela parede.

Mas Aurora 15 encontra seu limite quando decide entrar de vez no terreno do terror mais direto. A trama, que até então se sustentava na sugestão, na insinuação, acaba se simplificando para um conflito de “pessoas contra uma força sobrenatural”. As nuances do casal, as pequenas camadas que pareciam prometer algo maior, tudo isso se desfaz. A casa, que antes era agente, vira apenas cenário. A sensação é que o filme tinha uma pesquisa emocional rica, mas resolveu trocá-la pela corrida final contra o desconhecido. Fica, então, a impressão de que assistimos a uma ideia de filme, algo que ainda precisava ser aprofundado, esticado, arriscado mais.

No fim, Aurora 15 é um passatempo atmosférico que funciona no primeiro impacto, com momentos verdadeiramente envolventes. Mas falta o mergulho. Falta aquela vertigem que transforma um terror em algo que acompanha o espectador depois dos créditos. É como se o filme levantasse a pergunta, mas parasse antes da resposta.

Nota: 2/5

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*filme visto na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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