Cinema, Crítica de Filme

Dollhouse | Crítica

Uma boneca, uma mãe, uma perda, e o terror que nasce do que não queremos encarar.

Há filmes de terror que não começam pelo terror, mas pelo luto, e Dollhouse é exatamente esse tipo de obra. Antes de qualquer ruído na noite ou sombra no corredor, existe uma família marcada por uma tragédia recente. E é dentro desse cenário emocionalmente conturbado que a boneca entra. Não como simples objeto amaldiçoado, mas como uma peça de ligação entre mãe, filha e o vazio que existe entre elas. O filme acerta ao entender que o medo não precisa ser imediato: ele pode amadurecer devagar, quase imperceptível, como um hábito que se infiltra na rotina.

A fotografia ajuda a construir esse clima. Os enquadramentos da casa, os gestos repetidos, o cotidiano do casal que tenta reencontrar um ponto de equilíbrio, tudo isso cria uma empatia verdadeira com aquelas pessoas antes da ameaça se manifestar. O terror chega aos poucos, e o filme parece confortável com esse ritmo. Esse cuidado faz com que, quando a boneca enfim assume um papel mais relevante, ela não seja só um objeto inquietante, mas um espelho para o que a mãe não consegue dizer em palavras.

Outra qualidade está na fluidez com que o filme alterna entre o foco na mãe e na filha. Não há uma protagonista absoluta. Há duas mulheres afetadas pelo mesmo trauma, cada uma tentando sobreviver ao seu modo, e a boneca se torna o centro gravitacional dessa dinâmica. É um thriller psicológico mais do que um filme para assustar,  e quando funciona dentro dessa proposta, funciona muito bem.

No entanto, Dollhouse parece com medo de confiar na própria força. Quando chega aos atos finais, ele começa a trocar de identidade: o terror psicológico dá lugar a tentativas mais diretas de horror, quase como se o filme sentisse a necessidade de provar algo ao público. É nesse momento que o ritmo se perde, que a atmosfera construída com cuidado se dilui e que a boneca deixa de ser metáfora para se tornar truque. O final, especialmente, se descola da sensibilidade que sustentou o filme até então. Não é que seja ruim, é que não pertence ao mesmo universo emocional que acompanhamos até ali.

Há uma criatividade real aqui, uma compreensão verdadeira de como usar um objeto simbólico para tratar de dor, culpa e reconciliação. Mas Dollhouse tropeça justamente quando tenta se encaixar no molde de um “terror de boneca”. Ele é melhor quando não tenta assustar, quando apenas observa, com um silêncio incômodo, o que a perda faz com quem fica.

No fim, é um filme que vale pela jornada emocional, ainda que o destino não esteja à altura do caminho.

Nota: 2,5/5

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