Séries, Streaming

Clube Spelunca | Review

Uma família imperfeita, um clube em ruína, e muito afeto no meio do caos. A série nacional está disponível na HBO Max.

Crédito: Giros Filmes e carlaalvesfotografia

Há séries que conquistam pela ideia, outras pelo ritmo, e há aquelas que se sustentam pela força do grupo que as ocupa. Clube Spelunca se encaixa nessa última categoria. Não é um projeto que tenta reinventar a comédia nacional, nem empacotar grandes discursos. Ele parte de um lugar simples e muito eficaz: uma família marcada pela história de um clube que já foi símbolo de orgulho do bairro e que, hoje, vive de lembranças e teimosia. A graça, e a beleza, está exatamente nisso. No desgaste, no “vamos ver no que dá”, na intimidade caótica que só família sabe construir.

A direção de Silvio Guindane reforça essa atmosfera caseira, permitindo que os personagens tenham espaço para existir. Nada é corrido demais. Nada é dramatizado além da conta. A série se apoia na proximidade e na sensação de que poderíamos encontrar aquele clube ali na esquina de Itaquera. O bairro, aliás, não é cenário: é parte da história. Ele surge nas gírias, nos bares, no calor humano, nos problemas financeiros, no modo como as pessoas aprendem a se virar com pouco e ainda arrumam tempo para rir. É um retrato que não romantiza nem diminui, apenas reconhece.

O elenco faz esse universo respirar. Digão (Eddy Jr) funciona como eixo afetivo e confuso da narrativa, o personagem que tenta equilibrar o colapso pessoal com a responsabilidade de preservar algo que, ao mesmo tempo, pertence e pesa. Já Leilah Moreno entrega uma presença viva, firme, emocional, que dá o contraponto exato de energia que a série precisa. Neusa Borges, como a avó e dona do clube, é o coração pulsante da casa: memória viva, autoritarismo afetivo, história que não se apaga. Antônio Pitanga, por sua vez, é um dos personagens que mais cresce ao longo da temporada — e sua figura traz tempo, sabedoria e vulnerabilidade.

Crédito: Giros Filmes e carlaalvesfotografia

A dinâmica familiar é o ponto alto. Os personagens têm personalidades distintas que funcionam separadamente, mas brilham de verdade nas interações em dupla, trio, ou naquela mesa cheia de vozes, interrupções e piadas internas. A trilha sonora acompanha essa afetividade, reforçando o que já existe no olhar, no cansaço e no carinho não-dito. Cada episódio apresenta um pequeno arco próprio, quase como causos do cotidiano, mas sempre retornando ao clube como centro gravitacional,  não só como espaço físico, mas como tesouro simbólico. Um tesouro gasto, desbotado, porém carregado de história.

A temporada é bem construída e fechada,  não depende de mistério, reviravolta ou clímax exagerado. Ela se move com passos curtos e intencionais. E, se há algo a pontuar, é que a série não se aprofunda tanto em camadas mais densas dos personagens. O foco permanece no presente, no movimento imediato, no problema da semana. É eficiente, simpático, gostoso de assistir, mas há matéria aqui para ir além.

Crédito: Giros Filmes e carlaalvesfotografia

Ainda assim, Clube Spelunca é um ótimo passatempo, daqueles que aquecem pela identificação. A família pode ser a sua, a minha, a de qualquer um que já viu orgulho virar peso, e ainda assim segue cuidando. A série encontra humor onde poderia haver cinismo, e afeto onde poderia haver frieza. E talvez seja aí que ela mais acerta.

No fim, é uma história sobre segurar o que se ama, mesmo quando já não brilha como antes.

Nota: 4/5

Contato: naoparecemaseserio@gmail.com

Não Parece Mas É Sério

Youtube: Canal do Youtube – Não Parece Mas É Sério

Facebook: facebook.com/naoparecemaseserio

Instagram: @naoparecemaseserio

Deixe um comentário