Entre o palco e o mito, um tributo que transforma memória em festa.

O musical Tim Maia – Vale Tudo é uma explosão de energia que transforma o palco em um verdadeiro baile da soul music brasileira. Desde a abertura, com a banda tocando ao vivo e esquentando o público com trechos de sucessos, fica claro que a proposta é celebrar, mais do que narrar. Tudo é pulsante, colorido, vibrante, e mergulha o espectador numa atmosfera que revisita as décadas de 80 e 90 com muito ritmo e carisma.
O trio que conduz a narrativa é um dos pontos altos do espetáculo. Cantam, dançam e funcionam como uma espécie de coro-narrador, pontuando os momentos-chave com humor e presença cênica. Há uma fluidez natural no modo como a história é contada, sem pausas desnecessárias, sempre embalando a plateia para a próxima música. Essa estrutura mantém o musical leve e dinâmico, mesmo quando o texto tenta tocar em passagens mais complexas da trajetória do cantor.
Thór Junior, no papel de Tim Maia, é o centro gravitacional da montagem. Sua voz é potente, rouca e incrivelmente próxima da do próprio Tim. Ele encara as variações vocais com impressionante intensidade, mantendo a energia lá no alto do início ao fim. É um desempenho que segura o espetáculo, tanto pela entrega física quanto pela honestidade emocional que transmite.

As representações de figuras marcantes na vida de Tim, como Jorge Ben Jor, Roberto Carlos e Elis Regina, são outro acerto. Os atores foram escolhidos com precisão, e cada aparição é recebida com entusiasmo pelo público, que reconhece instantaneamente os trejeitos e as vozes icônicas. Há algo de lúdico nessa recriação de bastidores da MPB, como se estivéssemos folheando um álbum musical de memórias vivas.
O cenário, mesmo simples, é usado com inteligência. As trocas são rápidas, e os letreiros que indicam locais e fases da vida de Tim aparecem de forma fluida, sem interromper o ritmo. Tudo parece conspirar para que o foco permaneça na música e na performance, e nesse aspecto, o espetáculo brilha, principalmente quando o público começa a cantar junto, numa comunhão que só um repertório como o de Tim Maia é capaz de gerar.
Mas Vale Tudo escolhe o caminho da celebração em detrimento da profundidade. Ao tentar criar um arco dramático, o musical acaba ficando na superfície, preferindo pular de canção em canção sem mergulhar nos conflitos e contradições de Tim. A vida tumultuada do cantor é citada, mas raramente explorada. É uma biografia filtrada, que evita as sombras para permanecer no brilho.

Mesmo assim, é impossível sair indiferente. O espetáculo pulsa com o mesmo magnetismo que Tim Maia imprimia em cada nota, e talvez esse seja o maior mérito da montagem: capturar o espírito de um artista que viveu intensamente e fez da música o seu próprio palco de liberdade.
Nota: 4/5
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