Cinema, Crítica de Filme

Salve Rosa | Crítica

Um suspense psicológico que observa o amor e o controle com a precisão de uma lâmina.

Salve Rosa é o tipo de filme que começa com um desconforto silencioso e, aos poucos, vai transformando esse incômodo em um suspense psicológico denso e intrigante. Susanna Lira constrói desde os primeiros minutos uma atmosfera de tensão quase palpável, o tipo de ambiente em que cada palavra dita parece esconder algo, e cada gesto revela mais do que deveria. É um filme que entende o poder do silêncio e da observação, e usa isso com precisão.

Karine Teles entrega uma das atuações mais intensas de sua carreira. Sua personagem, uma mãe controladora e enérgica, é apresentada como o centro de um pequeno universo, tentando moldar tudo à sua volta, especialmente a filha, Rosa. O roteiro, afiado e cuidadoso, vai aos poucos revelando as camadas dessa mulher, e cada nova descoberta reforça o desconforto de quem assiste. É uma personagem que fascina e assusta na mesma medida.

Klara Castanho, por sua vez, surge com força e sensibilidade. Sua Rosa é uma jovem em plena transição: sucesso na internet, adolescência em ebulição e uma relação sufocante com a mãe. Lira e o roteiro encontram na dinâmica entre as duas uma espinha dorsal poderosa, um retrato de dependência e controle que ecoa temas contemporâneos, da fama precoce à exposição digital.

O elenco secundário se encaixa com precisão nesse mosaico. Alana Cabral, como a nova melhor amiga, traz frescor e leveza, mas também serve de gatilho para os desdobramentos mais tensos. Indira Nascimento, como a síndica do condomínio de luxo, e o marido dela são peças fundamentais que alimentam as reviravoltas da trama. Lira sabe usar bem esses personagens de apoio para dar ritmo e ampliar as camadas psicológicas do enredo, sem perder o foco na dupla central.

Há uma engenhosidade na estrutura de Salve Rosa: os atos se sucedem com trocas de ritmo calculadas, sempre buscando surpreender. As viradas nunca soam artificiais, e o filme encontra no inesperado uma das suas maiores forças. O clímax, em especial, é um momento de coragem narrativo e emocional,  que amarra tudo de maneira intensa e incômoda, sem recorrer a explicações fáceis.

O resultado é um thriller psicológico elegante, que observa o comportamento humano com a mesma curiosidade que observa seus próprios segredos. Salve Rosa é um retrato do amor que sufoca, da fama que distorce e do controle que destrói. Susanna Lira confirma, aqui, sua habilidade em contar histórias que incomodam e provocam, sempre com uma lente atenta ao que existe por trás da aparência.

Nota: 4/5

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