Cinema, Crítica de Filme

A Palavra | Crítica

O silêncio entre o sagrado e o sensacionalismo se revela o verdadeiro conflito de A Palavra

Tuca Andrada em “A PALAVRA” Produção: FJ Produções e Star Filmes. Distribuição: PlayArte Pictures

A Palavra é um filme que entende o peso do discurso e o impacto que uma narrativa pode ter quando manipulada. Ele mergulha no poder do jornalismo, essa profissão que pode tanto erguer quanto destruir e mostra como, em mãos erradas, a verdade se torna um instrumento de vaidade e controle. A direção de Guilherme de Almeida Prado aproveita bem o cenário do Nordeste, com suas paisagens áridas e de forte simbolismo, retratando a seca não apenas como pano de fundo, mas como reflexo de um Brasil que ainda se alimenta da desigualdade e do descaso político.

Regina Maria Remencius entrega uma atuação intensa e cheia de camadas. Sua jornalista começa movida pela sede de expor o outro, mas acaba sendo desnudada por dentro ao se deparar com Elias, vivido por Tuca Andrada. É interessante notar como o ator, interpretando dois papéis, confere uma duplicidade simbólica ao filme o homem e o mito, o terreno e o espiritual. Mesmo quando o roteiro se aproxima de passagens bíblicas, Tuca mantém firmeza e humanidade, equilibrando leveza e autoridade em cada gesto.

Visualmente, o longa é um colírio seco, cada plano tem textura, poeira, e a luz parece refletir tanto o clima quanto o conflito interno dos personagens. A fotografia transforma a aridez em poesia, e o Nordeste filmado aqui se torna um espelho da alma: um lugar de fé, resistência e esgotamento. É nesse contraste entre o real e o simbólico que A Palavra encontra seu melhor momento, sugerindo que o deserto maior talvez seja o das convicções humanas.

Por outro lado, o filme tropeça quando força a grandiosidade de certas ideias. Há momentos em que a parábola se estende mais do que o necessário, e o discurso sobre verdade e poder ganha tons didáticos. Ainda assim, há uma força rara na forma como Guilherme de Almeida Prado se propõe a discutir a fé no jornalismo e o preço da palavra dita. O resultado é uma obra imperfeita, mas sincera — um retrato de um país que ainda tenta decidir em quem (ou no que) acredita.

Nota: 3/5

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