Animação, Cinema, Crítica de Filme

Totto-chan: A Menina Na Janela | Crítica

Um retrato delicado sobre infância, aceitação e a beleza de aprender sendo quem se é.

Totto-chan: A Menina Na Janela, dirigida por Shinnosuke Yakuwa, é uma daquelas animações que parecem simples até o instante em que tocam fundo e quando o fazem, é impossível não se emocionar. Adaptado do livro autobiográfico de Tetsuko Kuroyanagi, o filme narra a história de uma menina curiosa, cheia de energia e gentileza, cujo jeito peculiar a faz ser mal compreendida pela escola tradicional. Totto-chan não cabe nas regras, nos cronogramas ou nas fileiras de carteiras. E é justamente nesse não caber que a narrativa encontra sua força: ela não quer que a criança mude para se encaixar, quer que o mundo aprenda a enxergá-la como ela é.

Quando seus pais decidem levá-la a uma nova escola, com métodos alternativos e um diretor que acredita no potencial individual de cada aluno, o filme se abre em cores, sons e emoções. O novo ambiente é quase um pequeno paraíso da infância: salas em vagões de trem, atividades que exploram o aprendizado pela experiência e o respeito ao ritmo de cada criança. É uma pedagogia que soa moderna até hoje, e o roteiro sabe destacar isso com naturalidade, com didática pontuada, apenas mostrando como o afeto e a escuta ativa podem transformar o modo de aprender. A animação consegue traduzir essa filosofia visualmente, com um traço fino e cartunesco, cheio de detalhes nas expressões, roupas e gestos, criando um universo que parece aquecer o coração.

O mundo visto pelos olhos de Totto-chan é divertido, encantador e cheio de descobertas. A câmera (ou o olhar animado) acompanha sua curiosidade com leveza, sem perder de vista o contexto histórico em que tudo acontece. Há um recorte de época que surge aos poucos, e o diretor o insere com tanta delicadeza que ele só dói quando precisa doer. Mesmo assim, o foco permanece na pureza da infância, em como as crianças percebem o mundo antes de entender suas complexidades. É por essa via que o filme emociona: ele mostra o que é crescer sem deixar de ser criança, o que é aprender sem precisar abrir mão da imaginação.

O roteiro também tem um senso de comunidade muito forte. Cada colega de Totto-chan é apresentado com suas particularidades, alguns mais tímidos, outros excêntricos, e todos ganham espaço para crescer. Há uma empatia verdadeira no modo como a história une crianças de diferentes origens e realidades, criando um retrato da infância como lugar de encontro, não de separação. O resultado é um filme que, mesmo voltado para o público infantil, conversa diretamente com os adultos, principalmente com aqueles que já viram uma criança querida se sentir fora do lugar.

Yakuwa dirige tudo com uma sensibilidade quase terapêutica, equilibrando humor, emoção e reflexão em doses perfeitas. Cada gesto, cada olhar, cada cena junto à janela da escola parece guardar uma lembrança universal — o primeiro dia em um lugar novo, o primeiro amigo, a primeira vez que alguém acreditou em você. E é nessa simplicidade que totto-chan: a menina na janela encontra sua grandeza. É uma celebração da educação como ato de amor, da infância como estado de pureza, e da diferença como força, não desvio.

Ao final, é difícil não se ver em Totto-chan, na sua curiosidade, no seu encantamento e na sua esperança teimosa. Porque, no fundo, o filme não fala apenas de uma menina e sua escola, mas de como o mundo pode ser mais bonito quando olhado com o coração de uma criança.

Nota: 5/5

Contato: naoparecemaseserio@gmail.com

Não Parece Mas É Sério

Youtube: Canal do Youtube – Não Parece Mas É Sério

Facebook: facebook.com/naoparecemaseserio

Instagram: @naoparecemaseserio

Deixe um comentário