Cinema, Crítica de Filme

Mauricio de Sousa – O Filme | Crítica

A infância de quem deu vida à nossa. Um mergulho nostálgico no coração de Mauricio de Sousa.

Crédito: Iuri Senck

A cinebiografia de Mauricio de Sousa encontra no afeto familiar o ponto de partida de sua força emocional. O filme entende que antes do sucesso, havia o menino sonhador, e é a partir dos arcos dramáticos dos pais (Emílio Orciollo Neto e Natália Lage) e da avó (Elizabeth Savalla) que se constrói a alma do protagonista. Essa relação íntima, especialmente com a avó, torna-se um abrigo emocional constante, um lugar de respiro nas incertezas da juventude. A câmera não tem pressa nesses momentos, e isso faz diferença: o calor do lar, o apoio dos mais velhos e o olhar curioso do jovem Mauricio moldam não só o artista, mas o homem que aprenderia a observar o mundo com doçura e humor.

O filme acerta também ao escalar Mauro Sousa que, além de fisicamente lembrar o pai, encontra o tom certo para representar as dúvidas e entusiasmos de alguém tentando abrir caminho no universo dos quadrinhos. Ele transita entre fases de vida e mudanças de atmosfera com entrega visível, mesmo quando o ritmo da montagem faz o filme oscilar. Há passagens que saltam do drama familiar ao retrato de época, e outras que mergulham na criação dos personagens icônicos, como se estivéssemos assistindo à própria memória de Mauricio se materializar em tela.

Tecnicamente, a produção é um pequeno passeio pela história da imprensa e da cultura pop brasileira: jornais, máquinas de escrever, referências a colegas de ofício (como Ziraldo, que ganha um destaque afetivo), e um desenho de produção que busca recriar com fidelidade as décadas pelas quais o artista atravessou. A fotografia e o figurino ajudam para marcar o tempo, ainda que, em certos momentos, mudem tanto de tonalidade e textura que criem uma espécie de desconexão entre os atos, uma diferença que chama atenção, mas não chega a prejudicar a narrativa.

Crédito: Iuri Senck

É um filme cheio de carinho e de “easter eggs, um verdadeiro parque de nostalgia para quem cresceu com a Turma da Mônica. Cada detalhe, quadro e rascunho esconde um pedaço de lembrança, um eco da infância coletiva que Mauricio ajudou a construir. O espectador sai com a sensação de ter revisitado um passado doce e inspirador, de ter reconhecido o traço antes mesmo de ver o nome.

O que incomoda, no entanto, é o final abrupto, quase como um corte seco antes de um novo capítulo. Fica a impressão de que havia mais história a ser contada, de que o arco da resiliência e da superação poderia ganhar mais fôlego, especialmente após um início que mostra as dificuldades de afirmação e aceitação. Faltam, em alguns trechos, pausas para que o público possa absorver a dimensão da jornada que estamos vendo. Ainda assim, o saldo é muito positivo: o filme cumpre com dignidade a missão de homenagear um dos maiores contadores de histórias do Brasil, com um olhar que mistura respeito, emoção e leveza.

É uma obra essencial para fãs do autor e da Turma da Mônica, mas também um convite para quem quer entender como o sonho de um garoto interiorano se transformou em um império da imaginação e, sobretudo, em parte fundamental da memória afetiva de um país.

Nota: 3/5

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