Cinema, Crítica de Filme

Animais Perigosos | Crítica

Um thriller que aposta em personagens fortes e um vilão perturbador.

Animais Perigosos é daqueles thrillers que preferem se aproximar dos personagens antes de mergulhar no terror do seu vilão. A câmera aposta em um olhar próximo, sempre destacando emoções e criando empatia, o que faz com que o espectador entre na história não apenas pela tensão, mas pela conexão com quem está em cena. Essa escolha narrativa se mostra essencial quando o foco passa a ser o serial killer Tucker (Jai Courtney), figura imponente que transborda uma loucura calculada, transformando cada gesto em algo perturbador.

Courtney constrói um personagem que, além da força física, carrega a frieza de quem encontra prazer em matar. O modo como grava suas vítimas e coleciona lembranças cria um perfil ainda mais assustador, sem espaço para falhas ou remorso. Não é apenas um vilão genérico: há uma clareza de intenção que reforça a sensação de perigo constante. A cada aparição, Tucker ocupa o espaço de forma a dominar a narrativa, ainda que o filme não se limite a ele.

No contraponto está Zephyr, vivida por Hassie Harrison, que começa como uma vítima em potencial, a clássica mulher no lugar errado, na hora errada. Sozinha e sem família, tudo parecia apontar para a vulnerabilidade. Mas o roteiro escolhe outro caminho, construindo uma personagem resiliente, que ganha força na adversidade e se recusa a ser apenas mais uma presa. Harrison entrega essa transformação com intensidade, tornando a sobrevivência não só crível, mas também inspiradora dentro da lógica do gênero.

O grande mérito do longa é não ceder aos exageros. Mesmo tratando de um assassino que prefere métodos violentos, não há apelo a cenas gráficas gratuitas. O interesse está nos personagens e nas relações que se estabelecem entre eles, o que dá ao filme uma dimensão psicológica que vai além do choque visual. É um terror/thriller que sabe que o medo também nasce do silêncio, da espera e da imprevisibilidade.

Outro acerto está no cuidado em dar histórias de fundo a todos os personagens relevantes. Essa construção evita arquétipos rasos, oferecendo camadas que enriquecem a narrativa. O espectador sente que cada personagem tem um lugar, um peso e uma razão para estar ali, o que fortalece tanto a protagonista quanto o antagonista. É um diferencial em comparação a produções que apenas jogam figuras secundárias como meras vítimas descartáveis.

O final, no entanto, pede um pouco de cautela. Ainda que feche a trama de maneira funcional, há um risco de soar apressado em relação ao desenvolvimento construído até então. Isso não chega a comprometer a experiência, mas deixa a sensação de que havia espaço para um desfecho mais lapidado. Mesmo assim, a solidez da narrativa e a força das interpretações garantem que Animais Perigosos se mantenha como um thriller acima da média.

No conjunto, o filme entrega tensão, personagens bem trabalhados e um vilão memorável, sem se perder em fórmulas batidas. É uma obra que sabe equilibrar violência, psicologia e emoção, oferecendo mais do que sustos: oferece uma história de sobrevivência que prende até o último minuto.

Nota: 4/5

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