Cinema, Crítica de Filme

Seu Cavalcanti | Crítica

Um retrato íntimo e familiar que transforma a vida cotidiana em cinema

Crédito: Seu Cavalcanti

Dirigido por Leonardo Lacca, Seu Cavalcanti é um filme que nasce de dentro da família, e justamente por isso carrega um tom íntimo e tocante. A proximidade do diretor (avó e neto) com o biografado impede que a narrativa se perca em generalidades: tudo o que vemos em tela é atravessado por um afeto particular, mas ainda assim capaz de dialogar com qualquer espectador. É um trabalho que sabe valorizar tanto os pequenos gestos do cotidiano quanto os detalhes mais densos de uma vida, costurados pela narração que aparece em momentos pontuais para dar clareza e ritmo.

O filme aposta em planos próximos, que revelam a rotina de Seu Cavalcanti com uma naturalidade desarmada. Não há atores, nem grandes encenações: o que temos é a vida crua, captada com dignidade, sem a necessidade de filtros que suavizem os problemas pessoais ou familiares. A escolha por registrar esse cotidiano direto, sem artifícios, é justamente o que dá força ao documentário, um retrato que não se esconde atrás de símbolos ou discursos prontos, mas que se deixa conduzir pela presença autêntica de seu personagem.

Essa autenticidade também se reflete na fluidez das cenas. Mesmo quando acompanhamos momentos de bastidores, ou registros aparentemente banais, o filme encontra ali uma verdade que reforça sua proposta. Esses instantes não quebram a narrativa: ao contrário, contribuem para a construção da imagem de um homem comum que se deixa filmar pelo neto, sem reservas. O próprio ato de estar diante da câmera, repetidamente, mostra não apenas confiança, mas um prazer visível em compartilhar a vida.

Crédito: Divulgação

Há, nesse gesto, uma homenagem delicada que vai além do mero registro. O cinema de Lacca se faz a partir do recorte familiar, mas o que vemos é mais do que a história de um avô: é a memória em movimento, a lembrança materializada em imagem, o afeto transformado em narrativa. Essa dimensão emocional dá a Seu Cavalcanti um caráter universal, mostrando como o olhar íntimo pode ser, paradoxalmente, também o mais aberto.

O filme não precisa de grandes artifícios para emocionar. Sua força está justamente na simplicidade, na maneira como transforma uma rotina aparentemente comum em um retrato cheio de vida, construído com respeito e amor. É uma obra que, em sua delicadeza, nos lembra do poder do cinema de guardar histórias e de celebrar os vínculos que nos formam.

Nota: 3/5

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