Entre o drama íntimo e a correria dos zumbis, o filme acha seu ritmo.

Depois de tanto tempo sem ver os infectados correndo soltos pela tela, Extermínio 3 (28 years later) chega equilibrando tradição e novidade. O filme mantém a estética nervosa dos anteriores, com planos que vão do aberto, revelando o caos das ruas, dos cenários e locações detalhados, ao close sufocante nos rostos dos personagens. Esse jogo de câmera reforça a sensação de urgência, o medo de que qualquer segundo de distração seja o último. E funciona.
O ponto central é o menino, interpretado por Alfie Williams, em sua jornada marcada pelas relações com o pai (Aaron Taylor-Johnson) e a mãe (Jodie Comer) — cada um moldando sua personalidade de forma distinta. É nessa dinâmica familiar que o roteiro encontra espaço para respiro em meio ao apocalipse, e também a oportunidade de marcar a transição do garoto: o momento em que mata seu primeiro infectado, tratado quase como um ritual de passagem para a vida adulta. A força do filme está nesse contraste entre o íntimo e o caótico, já que o mesmo cuidado com os dramas familiares aparece quando a correria dos zumbis explode em tela.
Visualmente, tudo se encaixa: o caos é incorporado de forma natural, seja no garoto se defendendo, seja nas mortes sanguinolentas e coreografadas, que não fogem da brutalidade esperada. O filme é estruturado com clareza, com início e meio bem desenvolvidos, sem se perder na pressa. Mas é justamente no final que vem a frustração. O anúncio precoce de uma continuação deixa a sensação de que a história não se conclui: um cliffhanger excessivo e distante do que vinha sendo construído. Além disso, personagens como o de Ralph Fiennes acabam mal aproveitados, o que reforça a impressão de que ficaram guardados para a sequência.

Outro acerto está na maquiagem dos infectados, que segue impecável e ganha ainda mais complexidade. Agora, os tipos de zumbis variam conforme o estágio da infecção, exigindo diferentes formas de enfrentamento. Essa escolha não só aumenta a tensão, como amplia o campo de possibilidades de ação, nada mais de soluções repetitivas para situações iguais. Cada encontro traz uma nova ameaça e pede improviso.
E, se isso já não fosse suficiente, o filme ainda acrescenta novas camadas ao mito dos infectados: eles podem andar em bando, reproduzir (há até uma zumbi grávida) e surgem os chamados “chefes”, figuras mais fortes e estratégicas, entre eles o alfa vivido por Chi Lewis-Parry, cuja presença física chama a atenção (em todos os sentidos, se é que você me entende). Esses detalhes, além de reforçarem o clima de novidade, deixam a sensação de que a franquia está mirando longe, expandindo o universo para terrenos que podem render muito no futuro.
Extermínio 3 é, ao mesmo tempo, uma volta bem estruturada ao universo que conhecemos e um trampolim óbvio para o próximo capítulo. Funciona como filme, mas não esconde que pensa como franquia.
Nota: 4/5
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