Cinema, Crítica de Filme

Carlota Joaquina, Princesa do Brazil | Crítica

Um marco do cinema nacional que continua afiado, agora em 4K

Ver Carlota Joaquina em versão remasterizada é quase como revisitar uma peça de museu restaurada com carinho: as cores saltam, os detalhes de cenário ganham vida, e o som, que antes tinha limitações da época, agora realça ainda mais os silêncios irônicos, os risos cínicos e os exageros que o filme se orgulha de carregar.

Lançado originalmente em 1995, o longa dirigido por Carla Camurati não é só um retrato satírico da corte portuguesa no Brasil, mas também um marco da retomada do cinema nacional, que vinha praticamente paralisado desde o desmonte da Embrafilme no início da década. O filme foi ousado, debochado e, acima de tudo, necessário, abriu portas e provou que o público brasileiro ainda queria (e precisava) ver sua história contada nas telas, mesmo que sob uma lente distorcida e cheia de sarcasmo.

A remasterização em 4K valoriza ainda mais os cenários suntuosos e vibrantes, que já eram um destaque na versão original. Os enquadramentos são cheios de movimento, com personagens em primeiro plano, ao fundo e até mesmo nas laterais, compondo uma encenação rica e quase barroca. Cada canto da tela parece ter vida própria.

O que dizer das atuações? Marieta Severo entrega uma Carlota versátil, manipuladora e teatral até o último fio da peruca. Sua performance flutua entre a farsa e a crítica política com uma naturalidade impressionante. E Marco Nanini, como Dom João, é uma caricatura viva e vibrante, sempre com um pedaço de frango na mão e um olhar entre o vazio e o cínico, uma crítica visual à apatia e ao descaso de quem detinha o poder.

Mesmo nos momentos mais contidos, há um ar teatral em muitas das cenas, o que só realça o tom exagerado da obra. E isso não é um defeito: é a alma do filme. Os excessos fazem parte da proposta. Eles servem para tirar a história do pedestal e colocá-la no campo do questionamento, do riso, da crítica. E tudo flui bem, sem que a narrativa perca sua estrutura.

É curioso como, mesmo depois de quase 30 anos, o longa continua atual. A forma como ironiza a colonização e a corte portuguesa, com seu ridículo, sua fome de poder e suas relações escusas, ainda encontra ecos no presente.

Nota: 3/5

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