Cinema, Crítica de Filme

Pacto da Viola | Crítica

Quando a viola não é só instrumento, mas herança e promessa

Entre acordes, promessas e raízes fincadas na terra, Pacto da Viola é um filme que sabe de onde veio e faz questão de mostrar isso a cada plano. Dirigido por Guilherme Bacalhao, o longa mistura música, tradição e drama familiar numa narrativa que respeita o tempo do campo e a força de seus vínculos. O roteiro, assinado pelo diretor, Roberto Robalinho e Aurélio Aragão, constrói uma jornada que fala de legado, renúncia e pertencimento.

Alex (Wellington Abreu) é um músico que nunca alcançou o reconhecimento que desejava, mas não desiste. Ele segue, entre feiras, festas e lembranças, carregando a viola e a esperança como extensão do próprio corpo. A história valoriza os detalhes: os costumes locais são explicados com cuidado, sem didatismo exagerado, permitindo que até quem está distante daquele universo consiga se conectar.

A fotografia é outro ponto alto. Com planos que privilegiam a luz solar, filtros amarelos e paisagens abertas, o filme transforma o sertão em personagem. Não é apenas cenário, é memória viva.

Mas é na relação entre pai e filho que Pacto da Viola encontra seu coração. Sérgio Vianna, no papel de Lázaro (pai de Alex), entrega uma atuação firme, que equilibra rigidez e afeto. Ao lado de Wellington, os dois constroem uma dinâmica marcada por tradição, silêncio e uma devoção à música que vai além do talento, ela carrega um sentido espiritual. O misticismo regional, presente de forma orgânica, reforça essa dimensão. As celebrações locais, com seus rituais, músicas e danças, têm o tempo de tela necessário para respirar e encantar.

O único tropeço do filme está na repetição de alguns elementos. Há uma certa insistência em temas e imagens que poderiam ganhar variações ou novos desdobramentos. Em vez disso, o longa opta por reafirmar o já mostrado, o que pode gerar uma leve sensação de estagnação em certos trechos.Ainda assim, Pacto da Viola é um filme de alma e som. Que olha para o Brasil profundo com respeito e poesia, e transforma as cordas da viola em fio condutor de histórias que merecem ser escutadas.

Nota: 4/5

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