Cinema, Crítica de Filme

Atena | Crítica

Quando a justiça falha, a reação vem com rosto e nome

Violência gera silêncio, ou reação? Esse é um dos dilemas que Atena, novo longa nacional, coloca no centro de sua trama. Com direção firme de Caco Souza e ritmo acelerado, o filme mergulha em uma história de vingança pessoal que tenta equilibrar justiça e consequência nem sempre com total sucesso, mas com intensidade de sobra.

Mel Lisboa assume o papel-título com muita entrega. Sua personagem começa como uma mulher comum, envolvida por uma rotina aparentemente estável, até que a sociedade injusta e cruel com mulheres, a empurra para uma trajetória sombria. Atena vira o símbolo de uma resposta crua à violência contra a mulher e Lisboa transita com competência entre a persona contida do dia a dia e a vigilante que age por conta própria. A narrativa ainda tenta humanizá-la em alguns momentos, mostrando suas fragilidades, o que evita cair no arquétipo da justiceira fria e calculista.

A investigação conduzida pelo personagem de Thiago Fragoso também merece destaque. Sem pirotecnia ou atalhos fantasiosos, ele conduz tudo de forma realista, com erros, dúvidas e limitações que fazem sentido dentro da proposta do filme. É um contraponto interessante à escalada da protagonista.

A fotografia colabora bastante com a atmosfera. Com uso de filtros mais densos e planos pensados, o visual de Atena contribui para o tom urgente da história que corre sem pausas, mas sem perder o controle. E apesar de não apostar em cenas de ação exageradas, o longa mantém a tensão na medida certa, com foco em consequências, e não só em movimentos coreografados.

Por outro lado, há alguns tropeços no desenvolvimento. O passado da protagonista é tão pesado que, apesar de justificar suas ações, toma tempo de tela demais, quebrando o ritmo em certos momentos. Além disso, sua jornada de vingança tem falhas de lógica difíceis de ignorar: ações que deveriam chamar atenção da polícia passam batidas, e ela nunca parece realmente em risco de ser descoberta, o que enfraquece um pouco o realismo que o filme tanto tenta construir.Ainda assim, Atena é um filme com saldo positivo. Não pela originalidade do enredo, mas pelo recorte que faz: uma mulher ignorada pelas instituições que decide fazer algo com as próprias mãos. E isso, por si só, já rende muito mais discussão do que boa parte dos thrillers do gênero.

Nota: 4/5

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