Fantoches, ciência e natureza em um passeio educativo pelos biomas do Brasil

Tem filme que nasce com uma proposta tão clara e necessária que a gente torce pra dar certo desde os primeiros minutos. Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil é exatamente isso: uma produção infantil que mistura fantoches, ‘atores reais’, música e educação ambiental, sem nunca soar forçada ou pasteurizada. Pelo contrário: o resultado é um filme lúdico, informativo e surpreendentemente fluido, tanto para crianças quanto para adultos.
A maior sacada aqui é a integração entre o universo dos fantoches e o dos humanos, feita com uma naturalidade que chama atenção. Nada parece deslocado ou gratuito. Thiago e Ísis conduzem a história com carisma e leveza, enquanto os encontros com cientistas, ativistas e personagens locais ajudam a ampliar o olhar sobre o Brasil real. As ONGs são tratadas como fontes legítimas de saber científico, e isso é importante: não é só sobre floresta bonita e bicho fofo, é sobre ecossistemas, proteção e ação coletiva.
O roteiro acerta ao passar pelos principais biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa) sem se alongar demais. Cada parada traz informações certeiras, embalada por músicas temáticas bem pensadas e um visual que alterna bem entre desenho animado, fantoches e imagens reais. A linguagem é didática, sem ser boba, e o filme respeita a inteligência das crianças (e dos pais que estão assistindo junto).

Outro ponto forte é o modo como o filme detalha os animais e a vegetação de cada região, sempre com alguma curiosidade ou comportamento que prende a atenção. Isso ajuda muito na conexão emocional que a criança entende, por exemplo, por que o lobo-guará ou a onça são tão especiais. E os adultos, mesmo que já conheçam o básico, se veem reaprendendo com uma empolgação que só um bom audiovisual educativo consegue provocar.
Um charme à parte são os próprios fantoches, que foram construídos com um cuidado estético e afetivo que faz toda a diferença. Os cabelos encaracolados, a barba levemente desalinhada do pai, os traços expressivos da filha — tudo remete a uma dinâmica real de pais e filhos, mas com um toque lúdico irresistível. Os olhos grandes, o gestual sutil e até os figurinos trazem camadas de identificação visual imediata. O trabalho de César Coelho nas animações também brilha ao conectar o universo dos fantoches com os ambientes dos biomas, ampliando o encantamento sem perder o realismo.
Sim, há algumas repetições visuais e estruturais, certos formatos de fala ou músicas que seguem o mesmo padrão, mas nada que atrapalhe. É o tipo de repetição que faz parte do universo infantil e até ajuda a fixar o conteúdo. O mais importante é que o filme não subestima seu público. Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil merece espaço nas escolas, nas TVs públicas, nas plataformas de streaming. É uma verdadeira aula de educação ambiental disfarçada de aventura divertida. E, numa época em que a informação científica anda tão atacada, ver um filme infantil defendendo o conhecimento com tanta leveza e responsabilidade é um alívio e uma esperança.
Nota: 5/5
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