Uma comédia afiada sobre menopausa, maturidade e tudo o que nunca te contaram.
Três mulheres, um elevador parado e dezessete minutos sem sinal, sem ventilação e sem filtro. É nesse cenário simples, mas absolutamente simbólico, que Mulheres em Chamas dá início a uma comédia afiada sobre a menopausa, o climatério e tudo aquilo que a gente evita comentar, mas que, definitivamente, precisa ser dito.
Estrelada, criada e escrita por Camila Raffanti, Juliana Araripe e Miá Mello, a peça em cartaz no Teatro UOL combina humor inteligente com momentos de franqueza emocional. O trio vive três mulheres com histórias distintas, mas igualmente impactadas pelas transformações físicas e emocionais que chegam com a faixa dos 40+. Uma é casada e mãe de quatro filhos, outra recém separada, enquanto a terceira, indo assinar o divóicio, tenta equilibrar sua vida ao lado de um pet e muitos questionamentos. Todas representadas com entrega e verdade por Miá, Juliana e Camila, que imprimem suas vozes, corpos e experiências com leveza e sintonia.
A química entre as três atrizes é palpável, e o palco se torna quase pequeno diante da energia que emana daquelas conversas aparentemente banais, que toca fundo em quem assiste. Em meio a gargalhadas e provocações, o espetáculo trata de questões como libido, ondas de calor, insônia, inseguranças, machismo e as múltiplas pressões sociais sobre o envelhecimento feminino. Só que tudo isso sem virar palestra: aqui, o riso é ferramenta, o corpo é linguagem, e o texto, ainda que cômico, não foge do desconforto necessário.

O mérito do espetáculo está também na forma como ele costura realidade e ficção. Em diversos momentos, as atrizes rompem a quarta parede para compartilhar relatos que soam mais pessoais do que ensaiados, gerando identificação quase imediata com a plateia, que ri, reage e se vê ali, presa no mesmo elevador simbólico. O público feminino, em especial, se reconhece nas falas, nas entrelinhas e até nas crises silenciosas que o espetáculo consegue escancarar.
Mesmo sendo centrada em uma temática específica, Mulheres em Chamas fala com qualquer pessoa que já se sentiu pressionada a manter a compostura quando tudo dentro parecia desabar. O humor, revela-se uma arma de resistência, uma forma de permanecer de pé, mesmo em meio às oscilações, suores e incertezas. Ao final, o que fica é o riso, sim, mas também a sensação de ter ouvido verdades raras num palco generoso.
Dirigida por Paula Cohen, a montagem acerta ao brincar com recursos sonoros e explorar bem o tempo de palco de cada atriz. O uso de vozes caricatas, movimentos exagerados e quebras de expectativa potencializa as cenas, transformando o que poderia ser apenas um papo de elevador num verdadeiro desabafo coletivo.

O mais potente de Mulheres em Chamas talvez esteja no fato de que nenhuma das três personagens quer representar “a mulher da menopausa”. Elas apenas estão vivendo, tentando entender o que mudou, e por que o mundo ainda parece fingir que essa mudança não existe. O público, inevitavelmente, se vê ali. E sai do teatro entre risadas e reflexões.
Em tempos em que o etarismo e o silenciamento do corpo feminino ainda persistem, essa peça chega como um sopro quente (sem trocadilhos) de vitalidade e escuta. Uma comédia necessária, feita por mulheres que, em cena, se colocam inteiras, com suor, franqueza e sem nenhum tabu.
Nota: 5/5
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Serviço:
MULHERES EM CHAMAS
Estreia dia 2 de julho, quarta, no Teatro UOL
Temporada: De 2 de julho a 28 de agosto de 2025.
Quartas e quintas-feiras, às 20h.
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos
Ingressos: https://teatrouol.com.br/espetaculos/mulheres-em-chamas/
Teatro UOL – Shopping Pátio Higienópolis
Endereço: Av. Higienópolis, 618 – Consolação, São Paulo – SP

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