Cinema, Crítica de Filme

Ado Special Live “Shinzou” in Cinema | Crítica

Estética, som e presença: Ado faz do palco cinema e da música espetáculo.

É preciso dizer logo de cara: “Ado Special Live ‘Shinzou’” não economiza em impacto. Com estreia programada nos cinemas, o show da enigmática cantora japonesa Ado, famosa por hits como “Usseewa” e por dar voz à Uta em One Piece Film: Red, é uma verdadeira descarga elétrica traduzida em luzes, animação, som e uma banda afiadíssima.

Gravado com a grandiosidade que se espera de uma artista que raramente se apresenta ao vivo, Shinzou mistura o conceito tradicional de show com projeções imersivas que fazem jus ao estilo hiperativo e teatral da cantora. O telão gigante, que alterna entre visuais estilizados e atmosferas temáticas, vira um personagem à parte, ampliando o impacto de cada faixa e transformando a apresentação em uma experiência quase sinestésica.

Os momentos mais marcantes não são apenas os grandes hits, mas a forma como a banda interage com o espetáculo, mantendo o fôlego e a energia em altíssimo nível. Há uma coesão entre o som e a estética visual que impressiona, algo raro mesmo em grandes produções.

Outro ponto que chama atenção é como o show foi editado para o cinema. A mixagem de som favorece uma imersão completa, e a montagem cuida bem dos detalhes do palco sem jamais tirar o foco de Ado. As câmeras respeitam o mistério da artista, nunca revelando mais do que ela permite — uma escolha que casa com sua imagem pública e fortalece o conceito visual.

O repertório também é bem pensado, equilibrando canções de explosão vocal com momentos mais melódicos e contidos. Mesmo quem não acompanha a carreira da artista deve se surpreender com o alcance vocal e a variação de estilos que ela transita com segurança, indo do pop dramático ao rock acelerado sem perder o controle.

No entanto, quando Ado resolve “falar” com o público, surge um contraste inesperado. Por manter a identidade visual sempre misteriosa, esperava-se que seus discursos fossem à altura do impacto das canções. Mas as falas soam íntimas demais, quase deslocadas, como se puxassem o freio de mão no meio de uma corrida desenfreada. Em vez de elevar a emoção, elas achatam o clima, revelando uma faceta pessoal que, embora legítima, não dialoga tão bem com o espetáculo montado ao redor.

Talvez seja uma tentativa de aproximação com o público, um gesto humano num show claramente concebido como uma experiência sensorial e não confessional. Mas o desequilíbrio entre o que é grandioso e o que é pessoal acaba expondo uma certa hesitação narrativa.

Ainda assim, o saldo é amplamente positivo. Ado entrega aquilo que se esperava: um show que grita (literalmente) com estilo, identidade e um senso estético afiadíssimo. Se a emoção às vezes se esconde nas entrelinhas, é o impacto visual e sonoro que ocupa o centro do palco e com muito mérito.

Nota: 4/5

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