Uma abordagem crua e sensual que vai além da estética para contar uma história de desejo e conexão.

Eros é um filme que nasce da intimidade. Não daquela construída em roteiros redondos, cenas iluminadas com precisão e diálogos meticulosamente escritos; mas da intimidade real, caseira, muitas vezes desconfortável, onde o desejo não vem pronto para consumo. A proposta é ousada: costurar pequenos vídeos enviados por pessoas reais e transformá-los em um mosaico sobre corpos, toque, desejo e solidão. O resultado é surpreendentemente orgânico.
Logo de cara, a estética causa estranhamento. São vídeos granulosos, por vezes mal enquadrados, com cortes secos e áudio imperfeito. Parece a receita para o fracasso inicialmente, porém essa imperfeição é justamente o que torna tudo mais verdadeiro. O erotismo aqui não vem da idealização, e sim do cotidiano. Não é um desejo cinematográfico e plastificado, é humano, ambíguo, às vezes incômodo.
O mérito está em como o filme consegue ir além da superfície dessas imagens. Há uma linha narrativa sutil, quase oculta, que vai emergindo aos poucos: a busca por conexão em tempos fragmentados, a tentativa de usar o corpo como meio de comunicação. O toque, o olhar, a pele, tudo vira discurso.

Não é um filme fácil. Não há personagens fixos, não há uma história com começo, meio e fim, não há trilha sonora guiando a emoção. O espectador é lançado nesse emaranhado de fragmentos e precisa, por conta própria, encontrar sentido. E isso, de certa forma, espelha exatamente o tema central: o encontro entre pessoas é sempre um jogo de montagem, de interpretação, de tentativa e erro.
Outro ponto interessante é a forma como Eros trata a exposição. Em um tempo em que o corpo é frequentemente mostrado de maneira performática, o filme opta pela vulnerabilidade. Os corpos aqui não estão prontos, não estão “em forma”, não estão editados. Eles aparecem como são, em seus limites e imperfeições.
Ao final, a sensação é a de ter assistido não a uma história, mas a um estado de espírito. Eros é um experimento narrativo, sensorial e emocional que propõe um olhar menos consumista sobre a sexualidade. É sobre presença, sobre desejo como linguagem e sobre o silêncio entre as palavras. Para quem topa sair da zona de conforto e repensar o erotismo no cinema, é uma experiência singular.
Nota: 4/5
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