Entre a guerra e a fé: um retrato poderoso da resistência na Revolução Francesa

Vencer ou Morrer é aquele tipo de filme que chega de mansinho, mas logo te arrebata com uma combinação poderosa: um enredo histórico sólido, personagens marcantes e uma estética visual de encher os olhos. Dirigido com muita competência por Paul Mignot, o longa nos transporta para o turbulento final do século XVIII, mais precisamente para a Guerra da Vendeia — episódio pouco explorado no cinema, mas que aqui ganha uma narrativa vibrante e intensa
A temática se destacaa logo no primeiro ato. O longa não se contenta em ser apenas mais um filme de época, mas mergulha com coragem na complexidade da guerra civil francesa, mostrando nuances políticas, sociais e religiosas. É uma obra que respeita a inteligência do espectador, não simplifica os fatos e, ao mesmo tempo, não perde aquele apelo dramático que nos faz prender a respiração em algumas cenas.
No centro dessa epopeia está Hugo Becker, que entrega uma atuação segura e emocionalmente carregada no papel de François-Athanase Charette de La Contrie, o líder militar do levante. Becker confere ao personagem uma nobreza silenciosa, uma força interna que impressiona e humaniza a figura histórica, tornando-o alguém que, mesmo envolto na brutalidade do conflito, guarda valores claros, coerentes e inspiradores.
Outro ponto que me agradou bastante é a abordagem cristã do filme. Ela está lá, com símbolos, diálogos e motivações enraizadas na fé, mas sem cair no proselitismo ou em discursos rasos. É uma presença discreta, mas firme, que ajuda a compor o cenário moral e ético dos personagens. No entanto, embora a fé mova muitos dos combatentes, o filme opta por enfatizar muito mais a dimensão bélica do conflito do que a espiritual.
A guerra, com toda a sua violência e tática, é o centro da narrativa, enquanto as manifestações mais profundas da fé acabam ficando em segundo plano. Isso pode frustrar quem esperava um mergulho mais reflexivo ou contemplativo sobre a espiritualidade.

Tecnicamente, o filme é impecável. A fotografia é deslumbrante, com planos que aproveitam com maestria as paisagens campestres e os cenários históricos da França. A paleta de cores, sóbria e vibrante, ajuda a criar uma atmosfera tensa e melancólica, que acompanha muito bem o desenrolar da trama. As cenas de batalha são filmadas com precisão. A câmera se aproxima, vibra, mas também sabe quando parar, respirar e nos deixar contemplar o momento.
A filmagem, aliás, é outro elemento que merece destaque. O diretor tem um olhar muito sensível, equilibrando ação e introspecção. Não é só um filme de espadas e pólvora: há silêncio, pausa e espaço para que a narrativa respire. Isso confere ao longa um ritmo muito agradável, mesmo quando mergulha nos episódios mais tensos da guerra.
No final das contas, não é apenas sobre uma batalha específica ou um personagem heroico: é sobre resistência, tradição e a difícil escolha entre se submeter ou lutar.
O filme que vale muito a pena ser visto, especialmente por quem aprecia tramas históricas bem construídas, atuações marcantes e uma cinematografia de altíssima qualidade. É sério, intenso, mas também humano e sensível.
Nota: 4/5
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