Cinema, Crítica de Filme

Ainda Não é Amanhã | Crítica

Quando a dor é um silêncio que o corpo não consegue esconder

Crédito: Divulgação

Em Ainda Não é Amanhã, cada plano parece respirar junto com a protagonista — ou, talvez, falte-lhe o ar junto dela. A direção de Milena Times é precisa ao construir essa intimidade: não há excessos, nem sublinhados; apenas a câmera, atenta, acompanhando o corpo que hesita, que sofre e que decide, mesmo quando o mundo ao redor parece seguir seu rumo no cotidiano.

Mayara Santos está brilhante. Sua atuação não é feita de grandes explosões, mas de um acúmulo silencioso, onde a angústia se manifesta nos pequenos gestos, no modo como ela evita os olhos de quem mora com ela, no cansaço que pesa sobre os ombros, ao esconder seus pensamentos

O filme é sobre o aborto, mas também sobre solidão. Sobre o peso de atravessar uma decisão íntima sem o amparo. E, mesmo assim, há uma espécie de força, que a personagem encontra ao dividir sua escolha apenas com uma amiga, e ao fazer tudo, corajosamente, por conta própria.

A diretora escolhe planos que não invadem, mas acompanham. Que não julgam, mas revelam. E assim constrói um filme delicado, que se sustenta nessa linha fina: entre o que se mostra e o que se esconde.

Há também um mérito na escolha de não transformar a narrativa em espetáculo. O que poderia facilmente cair em um dramalhão é, ao contrário, um retrato contido, onde a ausência de grandes trilhas ou discursos reforça a solidão da protagonista. O som é, muitas vezes, o da respiração, o ruído de passos vacilantes ou o silêncio espesso que envolve a casa.

E, no entanto, apesar da dor, há um fio de resistência que atravessa todo o filme. A personagem não sucumbe. Ela segue, silenciosa e firme, atravessando o que precisa ser feito, mesmo que não saiba — ou não possa — nomear o que sente. Ainda Não é Amanhã fala sobre o tempo da espera, da decisão e da superação. Sobre aquilo que não se pode antecipar, mas que, inevitavelmente, chega.

A trama é acima de tudo, uma experiência sensorial e emocional, onde técnica e sensibilidade se fundem para contar uma história íntima e humana.

Nota: 5/5

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