Um espetáculo visual deslumbrante que, infelizmente, esquece de dar alma aos seus personagens.
A Lenda de Ochi é um daqueles filmes que hipnotizam pela força de sua estética, mas que, paradoxalmente, se esvaziam quando tentamos nos conectar com quem habita aquele mundo. Tecnicamente impecável, o filme constrói uma ambientação poderosa: a fotografia é deslumbrante, os efeitos práticos se mesclam com o CGI de forma orgânica, e há uma direção de arte que, sozinha, já justifica a experiência cinematográfica. As paisagens são de tirar o fôlego e o design das criaturas, especialmente, demonstra uma inventividade rara.
No entanto, o fascínio visual não encontra um equivalente emocional. Os personagens humanos surgem como peças deslocadas dentro daquele ecossistema fantástico, quase como se fossem visitantes que não soubessem muito bem o que estão fazendo ali. Falta densidade nas suas motivações, complexidade nos seus conflitos, e, sobretudo, falta aquele traço essencial que nos faz torcer por eles ou sequer entendê-los.
A narrativa, por sua vez, segue o mesmo caminho: privilegia o espetáculo e a mitologia, mas sacrifica a profundidade em diversos momentos. Há elementos contemplativos, mas que, justamente por não estarem ancorados em personagens parecem fora de tom. Dá a sensação de que o filme quer dizer muito — sobre natureza, pertencimento, lendas — mas escolhe fazê-lo com silêncios e metáforas que nem sempre se decifram com clareza.
Ainda assim, seria injusto negar que A Lenda de Ochi é uma obra corajosa. Não se trata de um produto genérico, muito menos de um filme que se rende aos padrões fáceis do entretenimento. Sua proposta é claramente autoral, e há mérito nisso. Talvez, justamente por isso, seja tão frustrante perceber que o mesmo rigor não foi aplicado à construção dramática dos personagens humanos.
O longa merece ser visto, mas que dificilmente será lembrado pelo que mais deveria importar: as pessoas. Uma experiência estética fascinante, mas emocionalmente fria.
Nota: 3/5
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