Cinema, Crítica de Filme

Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 | Crítica

Visualmente deslumbrante, narrativamente exausto: um espetáculo que encanta os olhos, mas dispersa a mente.

Existe um momento em Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 em que o espectador se vê cercado por uma avalanche visual tão rica e milimetricamente coreografada que quase esquece que está em um filme de mistério. É um deleite estético, sem dúvidas. Mas, ao final das mais de duas horas de projeção, essa beleza visual parece ter sido usada como disfarce — uma espécie de mágica estilística que tenta desviar a atenção de um enredo arrastado e de um ritmo que se perde entre a piada fácil e o drama investigativo.

A franquia Detetive Chinatown sempre teve uma veia caótica: personagens caricatos, tramas que saltam entre gêneros, e uma direção que aposta no exagero como assinatura. Neste novo capítulo, o diretor tenta fazer da confusão uma virtude, como se o excesso fosse suficiente para compensar a falta de foco narrativo. Não é. A história — ambientada em um passado alternativo e saturada de elementos steampunk — parece construída mais para sustentar cenas grandiosas do que para desenvolver um mistério de fato instigante.

O maior mérito do filme está, sem dúvida, na construção visual. Os cenários impressionam pela atenção ao detalhe, criando uma atmosfera única que mistura o tradicional e o futurista de forma convincente. O design de produção é meticuloso, e há momentos em que o quadro poderia facilmente ser pausado e admirado como se fosse uma pintura em movimento.

O elenco também tem brilho próprio. Os personagens, ainda que presos a arquétipos, são carismáticos e funcionam bem individualmente. Há química entre eles, e seus trejeitos — ainda que teatrais demais em alguns momentos — ajudam a manter certo dinamismo. Porém, quando o roteiro exige densidade ou construção emocional mais sólida, o texto falha. Há uma lacuna entre forma e conteúdo: os personagens são interessantes, mas o que fazem raramente é.

Em sua tentativa de ser mais ambicioso, o filme termina refém das próprias ideias. Há um excesso de subtramas que, em vez de se entrelaçarem de maneira orgânica, competem pela atenção do espectador. O mistério central, que deveria guiar a narrativa com clareza, acaba sufocado por desvios que pouco contribuem para o desenvolvimento da trama principal. É como se cada nova cena quisesse provar sua importância isoladamente, sem contribuir para o todo. Ainda assim, é difícil ignorar a ousadia da proposta.

O Mistério de 1900 busca uma escala épica incomum em filmes de comédia investigativa, e nesse ponto, entrega algo único. Pode não ser um bom filme no sentido clássico, mas é um produto cultural curioso — uma colagem de influências, estéticas e tons, que talvez agrade justamente pelo seu caos. Para alguns, essa bagunça criativa será parte do charme; para outros, como foi para mim, será um teste de paciência.

Nota: 2/5

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