Com personagens que nasceram nas redes sociais, produção independente leva o interior do Paraná para as telas do cinema
O influenciador mirim Gustavo Gabriel Braine, conhecido como Gustavim da Roça, está dando um passo marcante na sua trajetória ao estrelar o longa-metragem “O Tesouro da Meia-Noite” — o primeiro filme rodado nas cidades de Cerro Azul e Doutor Ulysses, no interior do Paraná. A produção é um feito inédito na região e envolve diretamente a comunidade local, com 98% do elenco formado por atores amadores, todos moradores dos municípios.
Aos 8 anos, Gustavim já soma mais de 388 mil seguidores apenas no Instagram, encantando o público com seu carisma, sotaque e simplicidade. Agora, ele leva às telas os personagens que criou nas histórias contadas em vídeos gravados na roça com sua família. “Tô muito feliz de ver meus personagens ganhando vida de verdade! A gente gravava na brincadeira, agora virou filme mesmo!”, comemora o pequeno artista.
Por trás da produção está o fotógrafo Josiel Braine, pai de Gustavim e diretor do filme. O projeto marca a realização de um sonho antigo. “Eu tinha 12 anos quando sonhava em ser ator. Preenchi um formulário de seleção de elenco que saía num jornal, mas nunca mandei. Esse sonho ficou engavetado. Hoje, estou vivendo isso através do meu filho, e ver os personagens que ele criou ganhando vida emociona demais”, conta Josiel.
O filme tem aproximadamente 1h40 de duração e mistura aventura, emoção e mistério, sem desfecho fechado — a ideia é já preparar o público para uma possível continuação. A história resgata valores familiares e memórias afetivas, remetendo à vida simples do campo e aos ensinamentos passados pelos avós, cada vez mais esquecidos na era digital. As gravações aconteceram aos finais de semana, com a equipe utilizando o que havia disponível: duas pessoas acumulando funções de filmagem, direção, som, figurino e continuidade.
A iniciativa nasceu com um incentivo da Lei Paulo Gustavo, que custeou parte da construção do cenário — fiel à realidade dos agricultores da região. O restante está sendo feito de forma voluntária, com a equipe buscando patrocinadores para cobrir despesas básicas, como deslocamento e alimentação dos envolvidos. “Nosso diferencial é mostrar que com pouquíssimo recurso e muita paixão, dá para fazer cinema. Queremos valorizar o talento escondido da nossa gente, inspirar outras pessoas e mostrar que é possível transformar sonhos em realidade”, reforça Josiel.
Além de movimentar a economia local e promover o turismo, o projeto pretende despertar o interesse de crianças e jovens pelo universo do audiovisual. As gravações também foram realizadas em locais emblemáticos da região, como a igreja católica Santo Antônio, Casa de Pedra e grutas em áreas quilombolas. Uma das atrizes escaladas para o filme pertence a uma comunidade quilombola de Doutor Ulysses — município que possui o menor IDH do Paraná.
“O Tesouro da Meia-Noite” é uma obra que nasceu do interior para o mundo. E, com personagens cativantes, enredo emocionante e muito coração envolvido, tem tudo para conquistar o público brasileiro — da roça às grandes cidades.
Não Parece Mas É Sério 