Cinema, Crítica de Filme

Praia Formosa | Crítica

Praia Formosa brinca com a linha do tempo, mas não perde o foco da história forte que tem em mãos.

O longa narra a jornada de Muanza (Lucília Raimundo), uma mulher oriunda do Reino do Congo, traficada para o Brasil no século XIX, que desperta nos dias atuais no Rio de Janeiro. Ao se deparar com uma cidade onde o passado e o presente colidem, Muanza embarca em uma busca profunda por suas origens e pela compreensão de sua própria história.

O longa flerta com a ficção científica e temos a sensação de leveza quando ele inicia, que ele seria aquele típico filme que fica falando de passado e presente, mas o roteiro que tem a participação da diretora Julia De Simone não fica neste básico, e consegue ser amplo, conceitual e firme em seus ideais. 

Mesmo com a confusão inicial da protagonista, que se sente perdida em meio a tudo, ela busca suas origens e compreender de onde veio e como chegou ao Brasil, a partir de conversas e locais que visita.

Com essa jornada pessoal, a trama não foca em preconceitos raciais, apesar de comparar elementos nas linhas do tempo, como o idioma, por exemplo, porém o grande destaque é como vemos isso na tela, os planos e as cenas ajudam no processo de imersão.

A ancestralidade tão presente tem um bom uso, pelo cuidado do roteiro em criar uma linha do tempo estruturada, dando detalhes e conceitos a história da protagonista e a diretora aproveita tudo isso para experimentar elementos, principalmente nas danças e ritmos que o longa apresenta.

Outro ponto é que pouco sabemos se tudo passa de um sonho ou realidade, seja pela casa que ela trabalha que está em condições lastimáveis e não temos outras interações e quando ela está no presente, isso se mantém em alguns momentos, brincando novamente com os conceitos de realidade.

Essa quebra da linha temporal e das vontades da protagonista, onde o próprio filme mescla danças, com diálogos e a troca temporal mudam constantemente o andamento do filme, nos surpreendendo, já que cada vez menos sabemos por onde a protagonista irá andar, mas não pense que Praia é confuso por disso, a diretora quer o controle para ela apenas. 

As estranhezas e os incômodos aumentam junto com o crescimento da história, seja pela sua ‘dona’ que fica mais rígida, as respostas que começam a fazer sentido ou até mesmo, ela lidando melhor com o presente do que seu passado, com isso há um sentimento de rebeldia que surge.

Nestes momentos Lucília transforma sua interpretação, por precisar trazer diversos sentimentos e características que mudam a cada nova cena, e como é um personagem em crescimento junto com a trama principal, prestamos ainda mais atenção na tela.

O longa lida bem com as mudanças, e imprime os conceitos certos, mesmo quando a linearidade de fatos não ser algo extremamente importante.

Nota: 3/5

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