Cinema, Crítica de Filme

O Estranho | Crítica

O Estranho é uma aula sobre falar sobre o entorno, trazendo novas narrativas a cada novo ato e personagens.

O Aeroporto Internacional de Guarulhos foi construído sob um antigo território indígena. Nesse espaço onde 35 mil trabalhadores garantem o funcionamento diário, Alê (Larissa Siqueira) tem sua vida atravessada pelas origens do aeroporto e por rastros de um passado em constante transformação. Seguindo personagens cujas vidas se cruzam no dia a dia, o olhar se fixa não sobre aqueles que passam, mas sobre o que permanece num local impregnado pelas feridas originárias de um país.

Os diretores Flora Dias e Juruna Mallon usam como referência o aeroporto para localização, mas o longa é plural, por trazer diversas informações através dos diálogos e dos seus bons personagens.

Além da boa trama, os diretores mantêm a câmera estática e deixam os personagens em cena longas e trocas intensas. Explorando as relações deles, e aos poucos vamos entendendo eles com Guarulhos.

O uso do aeroporto é a partir das personagens, seja no compartimentos de bagagens, as pausas nos turnos, até mesmo a ida e volta para casa após o trabalho é motivo para mais um detalhes ser apresentado ao espectador. 

Mesmo trazendo a história do local como um subtrama inicialmente, a preocupação é com construção de tema do que uma linha do tempo contínua, mas é rica em elementos e constroi isso com facilidade, pensando tanto em apresentar Guarulhos para quem não a conhece, ou apenas para quem sabe do aeroporto, ou quem quer usar o filme como material de aprendizagem.

As atuações são vibrantes, por justamente terem essa responsabilidade de contar sobre o local e ainda ter o tempo de elementos pessoais em seus personagens, há muita impessoalidade, arcos dramáticos e interações sobre família, trabalho e futuro.

Isso traz para o filme cumplicidade entre que se apoiam eles, já que há apoio uns nos outros, seja para um desabafo ou um momentos de lazer, eles estão sempre juntos e trazendo novas interações pelos atos com facilidade, com bons temas, sejam eles históricos ou de vida pessoal.

O roteiro traz o aeroporto pela visão de quem trabalha nele e nas proximidades, sem falar dos grandes voos e no dinheiro, mostrando os espaços pouco glamourosos com a parte da bagagem e a entrada de serviço, há o cuidado de mostrar os diversos pontos de poder que existem.

A crescente do local por causa do aeroporto é gigantesca, mas como vemos no filme, com o olhar de pessoas de lá, há citações políticas, problemas ambientais e políticos, e o longa se preocupa em dar espaço para todas as tramas que aborda.


Em uma história que parece simples inicialmente, O Estranho é plural para o espectador, seja pelos seus bons personagens e uso do principal local, o aeroporto de Guarulhos.

Nota: 4/5

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