Longa disponível no Festival É Tudo Verdade retrata a complexidade de um perturbador reality show japonês na década de 90.
Dirigido por Clair Titley (The British Woman on Death Row), acompanhamos a história de Nasubi, que passou 15 meses nu, preso em um quartinho e vivendo dos prêmios de um concurso de revista para um reality show japonês.
Em 1998, o comediante Tomoaki Hamatsu, apelidado de “Nasubi ” por causa de sua cabeça em formato de berinjela, deixou sua casa em Fukushima e foi para Tóquio em busca de fama e fortuna.
Um produtor de reality tirou Nasubi de um teste que ele realizava para televisão e o levou para um quarto pequeno e o lançou um desafio onde ficaria sem nenhuma roupa e recursos, exceto por uma pilha de cartões postais em branco, uma caneta e um porta-revistas.
Além de ficar completamente nu e isolado, Nasubi teria que viver dos prêmios dos sorteios de revistas, concursos movidos inteiramente pela sorte. Embora ele pudesse tecnicamente sair da sala e do desafio quando quisesse, o objetivo de Nasubi era ganhar prêmios no valor total de um milhão de ienes. Havia câmeras, mas ele não foi informado para que seriam usadas essas imagens.
Acontece que isso era para um reality show semanal chamado Denpa Shonen, mas Nasubi era tão popular que os produtores encontraram uma maneira de estender esse experimento, que durou 15 meses, para uma webcam de streaming disponível publicamente, algo que era incomum para a época.
Nasubi perdeu gradativamente a conexão com a realidade, caiu em depressão e pensou em suicídio, tudo diante de uma audiência nacional de televisão. O documentário mostra várias entrevistas com ele e como o trauma passado deixou ele completamente afetado nos dias de hoje.
Várias outras pessoas associadas ao programa também foram questionadas dos acontecimentos. Eles aparecem nas entrevistas, mas não acrescentam nada e não demonstram arrependimento de seus atos, ou de veicular e produzir o programa.
Uma das principais qualidades do documentário é a forma como ele explora a complexidade da motivação do Nasubi em continuar no desafio mesmo quando ele perde a noção da realidade.
O longa também oferece uma visão crítica e reflexiva sobre até onde o limite de uma emissora vai quando se trata de audiência. Essa abordagem questionadora adiciona profundidade e relevância ao documentário.
A cinematografia de The Contestant também merece destaque. O diretor utiliza imagens belíssimas e uma edição habilidosa para criar uma atmosfera imersiva e deixar o espectador perplexo com os acontecimentos.
O documentário poderoso que vai além da nossa compreensão do que um reality show mal desenvolvido pode ocasionar. A diretora demonstra habilidade em explorar a motivação de Nasubi, questionar os comportamentos estabelecidos pela televisão em busca de audiência e oferecer uma perspectiva instigante sobre o tema. Se você busca um documentário envolvente e reflexivo, The Contestant certamente não irá decepcionar.
*Visto no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários
Nota: 5/5
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