Tenho Fé explora as religiões de matrizes africanas, sem esquecer do didatismo e sabe usar a força dos seus entrevistados. Confira a crítica

A potência da presença afro-brasileira na criação artística do país é celebrada no documentário Tenho Fé, de Rian Córdova, no mês da Consciência Negra. Produzido pela Pixys Produções e Lira Filmes (a mesma do premiado “Levante”), o documentário – que foi apresentado na 47º Mostra Internacional de Cinema de SP – acompanha a jornada de artistas que celebram os orixás e a ancestralidade em suas obras, a fim de propor uma reflexão sobre o universo de culturas afro-diaspóricas.
O roteiro se apoia em dois pontos, de trazer a religião com uma explicação precisa, e com entrevistados que além de serem de áreas diferentes, agregam em diversos pontos.
Isso acaba sendo um trunfo interessante para ser usado em um país que apaga esses registros, e que se diz cristã, mas não se envolve em outras perspectivas, e é preconceituosa com outras religiões.
O diretor e roteirista também pensa em uma linearidade de conteúdos, de sempre buscar uma ligação entre os temas, seja pelos entrevistados ou pela dinâmica das respostas.
E a pluralidade de entrevistados traz não só uma cuidado com o tema, como o abrange com facilidade, temos desde a religião como tema de escolas de samba, como pesquisadores e artistas que são referência em suas áreas e agregam valores, conhecimento e principalmente, com as explicações devidas.

O documentário também traz relatos pessoais e uma convivência religiosa próxima de nós, e como elas são abordadas e significadas por cada uma.
A montagem final é precisa, seja por trazer uma linha principal clara ou por ligar as conversas, entre os entrevistados e entender quais os melhores momentos para ‘trocar’ de assuntos sem se perder.
Mesmo com a história ser algo primordial aqui, o documentário se fixa em mostrar elementos próximos da realidade e das pessoas.
A fotografia traz todo o colorido, as estátuas, e os elementos de tudo que apresenta, com um destaque para o trabalho do Hugo Canuto em Contos dos Orixás que aborda os orixás para histórias em quadrinhos.
Não se prender a elementos históricos e sim as histórias dos orixás, por exemplo, traz esses elementos para próximo do espectador, sem imposição, e sim explicá-los com a sua importância.
O roteiro aborda a intolerância religiosa, principalmente quanto às estátuas, mas o diretor não quer trazer a discussão para grandes planos, pois seu foco é outro, pelo tom didático que temos em Tenho Fé, cabia algo assim.
O longa é assertivo em seus temas e como contá-los, seja pela gama de entrevistados ou por abordar diversos elementos da religiões de matriz africana. Vale o aprendizado para os de fora, ou aprender mais sobre sua importância.
Nota: 3/5
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