Animação espanhola fala sobre a vida, dor da solidão e aprender a seguir em frente. Confira a crítica completa.
Dirigido por Pablo Berger (Abracadabra) é uma animação 2D que explora de forma brilhante e cativante a solidão, e como ela pode ser suprida por um produto. É uma adaptação da história em quadrinhos Robot Dreams de Sara Varon. O longa não possui diálogos, aumentando a melancolia e ousadia para a história e funciona perfeitamente.
A história se passa em Nova York, por volta dos anos 80/90, visto que as torres gêmeas ainda estavam de pé e elementos como toca fitas aparecem. A cidade parece uma espécie de Zootopia, já que só tem animais e nenhum humano. Dog é o personagem principal, um cachorro que se sente muito solitário e ao ver uma propaganda de robô na televisão, ele compra e o constrói para poder ter companhia.
Dog começa a se sentir vivo novamente, faz tudo ao lado do robô, passeiam, dançam a música tema do filme September, e comem cachorros-quentes juntos. Eles criam uma relação de amor muito forte, que não fica claro se é só amizade ou mais que isso, principalmente na cena que seguram as mãos e se entreolham, a questão é que fazem bem um ao outro.
No final de ano, Dog e o Robô vão para a praia, se divertem bastante na água e depois adormecem na areia e só acordam após o pôr do sol, porém o Robô ficou enferrujado e não consegue se mover, seu amigo até tenta tirar ele de lá, mas não possui força o suficiente. Dog acaba voltando para sua casa e no dia seguinte leva ferramentas para consertar seu amigo, só que ele não esperava, que a praia ficará fechada até junho do ano que vem e por mais que ele tente, não consegue entrar e na sua última tentativa, ele é preso por invasão.

Este ato traz emoção ao longa e os atos seguintes, pois as narrativas se dividem, com o Dog que tenta continuar sua vida e até conhece uma pata por quem parece se apaixonar, mas ela se muda; E o robô que preso na areia da praia começa a ter vários sonhos onde consegue escapar e voltar a viver com Dog, até despertar e perceber que ainda está lá, essas cenas são emocionais e profundas, onde nos conectamos a dor do protagonista.
O Robô continua sozinho até que um pássaro pousa e constrói seu ninho ao seu lado, quando o pássaro tem filhotinhos, o robô cria um amor enorme por eles, porém eles crescem e acabam partindo.
O longa é uma grande torcida para que Dog e o Robô se encontrem. Acontecem várias reviravoltas tristes na vida dos dois e o final não busca uma conclusão óbvia. Ele aborda a máxima que temos que seguir em frente, mostrando que essas decisões não são fáceis.
Os personagens são especialmente bem construídos, com uma profundidade emocional que permite ao público se conectar com eles de maneira significativa. A atuação é excepcional, com camadas complexas e dilemas enfrentados pelos protagonistas.
Além disso, a direção e a cinematografia do filme são impressionantes, criando uma Nova York, rica em detalhes. É uma experiência visualmente prazerosa e imersiva.

A sua abordagem inteligente e provocativa em relação às questões éticas e morais relacionadas à inteligência artificial. O roteiro traz reflexões profundas sobre o significado de um produto poder suprir uma solidão, ou seja, se você não tem conexões com pessoas, uma tecnologia pode suprir a falta disso, exatamente o que acontece na realidade, mesmo não sendo literalmente com robôs retratados no filme.
Por fim, a trilha sonora também merece destaque, complementando perfeitamente as cenas e adiciona emoção às experiências vividas pelos personagens, e mostra ao espectador que o diálogo não é necessário.
Robot Dreams é um filme excepcionalmente bem executado, que trata de assuntos complexos de forma envolvente. É uma verdadeira obra-prima da animação e certamente vale a pena ser apreciada por todas as pessoas.
Nota: 5/5
*Filme visto na 47º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
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