A comédia-dramática, construída com sensibilidade única, tem takes escolhidos a dedo, compondo a relação entre mãe e filho de uma forma belissima. Confira a crítica completa.

“Mamãe morreu. Seu enterro foi ontem. Esse é o primeiro dia sem ela”. A história de Pérola, a ilustre moradora de Bauru, é narrada pelo olhar de Mauro, que, após a morte da mãe, viaja para a cidade onde nasceu, lembrando de momentos do passado durante o trajeto.
A adaptação para cinema da obra teatral autobiográfica de Mauro Rasi (1949 – 2003) poderia ter sido um fracasso, já que grandes sucessos teatrais não costumam ser bem adaptados para outros formatos. Porém, o longa dirigido por Murilo Benício (Beijo no Asfalto) é uma produção belíssima e traz a essência de Rasi para as telas se consagrando como uma “Pérola” do cinema nacional.
Com a promessa de ser “um filme para todas as mães do mundo”, a produção acerta na escolha do elenco, contando com atores e atrizes brasileiros do mais alto nível, como: Leonardo Fernandes (Mauro), Rodolfo Vaz (Vado), Cláudia Missura (tia Norma), Marianna Armellini (tia Wanda), Valentina Bandeira (Elisa) e Drica Moraes representando Pérola, o grande destaque do longa.

A narrativa gira em torno do olhar de Mauro sobre a mãe. A matriarca da família de Bauru pretende envelhecer em sua casa, para ela “uma mansão com piscina” (ou “sem piscina”). Assim, todas as fases da vida do filho, desde a infância até a mudança na juventude para o Rio de Janeiro, se passam ali. É também na casa com piscina onde Drica Moraes, em sua melhor forma, mostra toda sua força como atriz e transforma Pérola em uma grande personagem, que com toda certeza, já marcou a história do cinema brasileiro. A atriz constrói uma Pérola versátil, a qual, mesmo cheia de marcas estereotipadas da mulher do interior, com sotaque caipira, dona de casa e responsável pela família, traz uma interpretação primorosa e encontra um equilíbrio em todas as cenas, sejam elas cômicas ou dramáticas.
A qualidade técnica do restante do elenco e a total integração entre si também são impressionantes. Nota-se a força interpretativa de cada um dos atores, os quais estão totalmente inseridos nas cenas e aproveitam com maestria as oportunidades para improvisação. É impossível não se identificar com algum momento do filme, afinal, nas palavras de Rodolfo Vaz, em coletiva de imprensa: “Essa família de Bauru é Universal”.
A direção de Murilo Benício é mais um destaque. Filmado em 2018 em um cenário pré-pandemia, apenas agora em 2023 chega aos cinemas de todo país. É consenso entre o elenco e toda equipe que Murilo tornou o set de filmagens um local agradável que contribuiu diretamente para o desenvolvimento do trabalho.
A comédia-dramática, construída com sensibilidade única, tem takes escolhidos a dedo. Destaca-se ainda, a fotografia, a qual traduz toda visão do diretor sobre a obra e revela dedicação impressionante aos mínimos detalhes visuais, fundamentais para o perfeito desenvolvimento da trama.

A adaptação de Benício mantém a essência do original e, embora a obra de Mauro Rasi tenha sido criada em 1995, os temas tratados ali são totalmente atuais, pois ao falar de relacionamentos familiares, relação entre mãe e filho, status social, conflito de gerações, além de outros temas, o filme trata da vida e a vida é ponto comum a todos.
O longa apresenta esses temas com uma delicadeza ímpar, como é o caso da piscina de Pérola: a mãe de Mauro sonha em ter uma “mansão com piscina”, mas a piscina torna-se quase uma nova personagem da história, quando a construção dela dura quase o filme inteiro e, um buraco de terra sem água, passa a fazer parte de todas as celebrações da família. Nas palavras da atriz Drica Moraes, “a piscina representa a construção da identidade dessa família”.
Pérola chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 28 de setembro e já pode ser considerado como uma obra prima.
NOTA: 5/5
Contato: naoparecemaseserio@gmail.com
Youtube: Canal do Youtube – Não Parece Mas É Sério
Facebook: facebook.com/naoparecemaseserio
Instagram: @naoparecemaseserio
TikTok: @naoparecemaseserio