O Lodo surpreende por saber os momentos certos para crescer a sua história, e ainda trazer a representação de problemas mentais com saídas técnicas acertadas e de fácil reconhecimento. Confira a crítica completa.

O novo filme de Helvécio Ratton (O Segredo dos Diamantes) é despretensioso, pra dizer o mínimo. Ele inicia com um personagem principal Manfredo (Eduardo Moreira), com um vida comum, de a partir de uma cena, simples, ele transforma o longa em uma história densa, que não só traz uma narrativa crescente, e como sabe trazer para tela representações de problemas mentais, com as mesmas saídas simples da trama.
O Lodo acompanha Manfredo, um pacato funcionário de uma companhia de seguros. Para tratar uma depressão, Manfredo procura um psiquiatra, o Dr. Pink. O médico afirma que ele tem um verdadeiro lodaçal dentro de si e quer saber de seu passado, mas há algo que Manfredo não deseja revelar. Manfredo se irrita com a insistência do Dr. Pink, sente raiva e medo do médico, mas não consegue se livrar dele, paralisado por uma culpa que carrega e procura esquecer. O Dr. Pink passa então a persegui-lo, até mesmo em terríveis pesadelos. O passado volta de repente e a vida de Manfredo se transforma num verdadeiro inferno.
Manfredo é a representação do homem que alcançou suas metas, como um bom emprego, casa e um relacionamento, mas a sua cabeça não está bem. O roteiro de Helvécio Ratton e L.G. Bayão, adaptando o conto “O Lodo”, de Murilo Rubião traz isso, de como negligenciamos a saúde mental em detrimento a outras partes de nossa vida.

A fotografia Lauro Escorel mantém a escuridão quando necessário, e luz para mostrar as trocas de humor e escolhas do protagonista, além dos planos centrados do diretor, que ajudam na imersão na história que cresce a cada novo ato.
A perseguição que é exaustiva, e incômoda até para quem assiste, tem motivos para ocorrer, seja pela analogias do lodo do personagem, ou a busca de ajuda que tentar tirar Manfredo da posição onde ele se encontra, onde ele não consegue sair.
Até o uso do passado do protagonista, é para mostrar novos elementos e narrativas que sempre surpreendem e agregam, à medida que avançamos. E não espere explicações para o que você assiste, o roteiro não tem pensa nestes momentos para facilitar.

Lodo tem essa característica, de adicionar camadas sempre que possível, sem dar indícios de um possível final ou mudança tradicional de atos. O longa não possui respiros, mesmo com um começo lento. E a duração ajuda neste ritmo.
Mesmo com essa velocidade, o diretor conta uma história densa e com nuances, que são perceptíveis, principalmente para quem busca ajuda para tratar a cabeça e depois o corpo.
Nota: 4/5
Contato: naoparecemaseserio@gmail.com
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